sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - MISSA DO DIA



            O Menino que nasceu em Belém da Judéia, é o Enviado do Pai: “Um menino nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado mensageiro do conselho de Deus” (Is 9, 6), como fala a antífona da entrada. Ou como em outras traduções: Será chamado Conselheiro Admirável. Jesus vem dar-nos o caminho da paz, da salvação, por isto é o Conselheiro. E pode nos dar o caminho certo porque Ele é Deus, como está na oração inicial da missa: “Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Esta divindade real de Jesus é atestada na 2ª leitura: “De fato, a qual dos anjos Deus disse alguma vez: Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”? Ou ainda: “Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um filho”? Mas quando faz entrar o Primogênito no mundo Deus diz: “Todos os anjos devem adorá-Lo” (Hb 1, 5-6). Adoramos só a Deus, e se os anjos devem adorar ao Menino Jesus, é porque Ele é Deus. Ele tem a divindade igual a do Pai. Ele é o Filho do Pai, não é apenas um filho como nós que fomos adotados pela Graça. O Filho por excelência! Filho de Deus, Deus mesmo!

            A divindade de Jesus é também apresentada no Evangelho de hoje: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1, 1). Jesus é a Palavra que se fez homem, como diz São João, no mesmo evangelho: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). A Palavra se fez carne quando recebeu no ventre puríssimo de Maria Santíssima, a natureza humana (Na Anunciação do anjo), e esse fazer-se homem se fez visível quando nasceu em Belém.

            E, assim, como nos diz a 1ª leitura: “O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem de nosso Deus” (Is 52, 10). A salvação pode ser vista porque se tornou visível em Jesus nascido em Belém. E com Ele vem a paz já profetizada na 1ª leitura: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação” (Is 52, 1). Jesus, portanto anuncia e comunica a paz, o bem e a salvação, porque Ele é Deus e tem toda a misericórdia e poder para isto.

            E crendo n’Ele nós atualizamos o nosso novo nascimento recebido desde o Batismo. Recebê-Lo agora é a condição de experimentarmos o nascer de Deus, como nos diz o Evangelho de hoje: “Mas a todos os que a receberam (receberam a Palavra que é Jesus), deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditaram em Seu nome, pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo” (Jo 1, 12-14a). Portanto, celebrar o Natal de Jesus é deixá-lo renascer em nossas almas. É crer mais profundamente n’Ele. É nascer espiritualmente de novo com Ele e n’Ele. É anunciar por Ele com a Sua Graça, a paz e a alegria da salvação que já veio, vem e virá.

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco.


NATAL DO SENHOR JESUS Missa da Noite (ou “Missa do Galo”)


A antífona da entrada nos coloca em clima de abertura ao Menino Jesus, o doador da paz: “Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz” (o Natal é alegria pela paz que vem do Senhor Jesus). O nome do Menino que é prometido no A.T. é :” Conselheiro admirável, Deus forte, pai dos tempos futuros, príncipe da paz”, como vemos na 1ª leitura (Is 9, 5b). Continua o texto: “Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reinado” (is 9, 6). O anjo que apareceu aos pastores de Belém lhes diz: “Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura. E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc, 2 10-14).

            A paz vem do Pai e desce pelo Menino Deus, mas deve ser querida, buscada e com as condições de se recebê-la. A primeira condição aparece na 1ª leitura: termos uma vida calcada na busca da justiça e da santidade (Is 9,06). E isto nos conclama a “abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade”, como está na 2ª leitura (Tt 2,12). Esta acolhida da paz verdadeira que vem do Menino Jesus supõe a superação da paz falsificada deste mundo. Essa paz que vem do mundo e não pacifica as nossas almas é produzida pelas ilusões de festas só humanas ou pelas substâncias que provocam uma tranqüilidade, mas que, após o efeito das mesmas, vem um grande vazio e uma grande frustração.

            Jesus, mais tarde se entrega por nós na Cruz para nos salvar (Tt 2, 14), sendo que essa entrega já começa quando nasce pobrezinho em Belém da Judéia, desprovido de todo o conforto humano. Estou me entregando a Jesus, com o auxílio de Nossa Senhora e de São José, para receber e dar a Sua paz? Canto a glória de Deus que vem em nosso socorro, para nos salvar? A noite feliz em que nasce o Menino Deus é festejada primeiramente em forma espiritual?

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

HOMILIA DO IVº DOMINGO DO ADVENTO


Nossa liturgia de hoje vê em Maria Santíssima a figura principal de quem espera e recebe o Messias, que é Jesus. O anjo Gabriel, que já no Antigo Testamento é o anjo das revelações de Deus (livro de Daniel), é enviado à virgem Maria para anunciar-lhe que ela estava sendo convidada a ser a Mãe do Salvador. É sondada com a expressão “alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Nossa Senhora fica temerosa com o impacto da saudação, mas o anjo lhe explica: “Eis que conceberás e darás á luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1, 31-33). E no mesmo texto o anjo destaca que Ele é o filho do Altíssimo e receberá o trono do seu pai Davi (filho de Davi, o grande descendente desse rei, é um dos títulos messiânicos de Jesus; e ainda mais que Davi existiu a mil anos antes de Jesus). Em outras palavras, as promessas que Deus havia feito a Davi, que dele nasceria o rei eterno, agora se cumprem. E o Messias nasce sem ação de homem, mas virginalmente, por obra do Espírito Santo. Ele descende de Davi, porque o pai adotivo de Jesus, São José, era descendente do rei Davi.

Nossa Senhora pergunta ao anjo “como acontecerá isto se eu não conheço homem algum?” – ela queria ficar virgem, porque realmente já possuía o noivo, São José, logo, ela e José, por ação especial de Deus, queriam um casamento especial, virginal, porque uma moça solteira era algo muito humilhante para o povo de Israel. E, no plano de Deus, o Menino Jesus, deveria nascer com pai (aparente, adotivo) e mãe real. Esta não poderia dar a luz o Menino Deus se não fosse casada. Seria visto como algo abominável. O anjo explica a Maria que ela conceberá por ação do espírito Santo, miraculosamente. E, Maria entende, assim, o plano maravilhoso de Deus e lhe dá o sim: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

O que Deus prometera à Davi na primeira leitura (2 Sm 7, 1-5. 8-12. 14-16), como está no salmo responsorial (Sl 88/89) e em outros textos, que lhe dará uma casa. Não é Davi que iria construir o Templo de Jerusalém (sabemos que foi Salomão, o rei que nasceu de Davi), mas é Deus que constrói para Davi, uma casa (subtende-se uma casa que jamais desmoronará). É o que confirma o final da 1ª leitura: “Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (1 Sm 7, 16). E agora, com o sim de Maria Santíssima, cumprem-se estas profecias: o grande filho (herdeiro) de Davi, que é Jesus, encontra no seio puríssimo de Maria, a sua casa onde estará por nove meses até nascer em Belém.

São Paulo, na segunda leitura (Rm 16, 25-27) fala da revelação do mistério mantido em sigilo desde sempre, manifestado agora, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação de Deus eterno. E mistério que foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé. E qual mistério? No início deste texto Paulo nos diz: “glória seja dada àquele quem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu evangelho e à pregação de Jesus cristo” (Rm 16, 25). O mistério é o Evangelho de Jesus Cristo, o Salvador, nascido de Maria Santíssima. Para que Ele nascesse como homem verdadeiro, que assumisse os nossos pecados teve que nascer de Nossa Senhora. O Seu nascimento dependeu da Sua concepção virginal no seio puríssimo de Maria, e do sim dela à Deus.

Nessa nossa preparação próxima ao Natal do Senhor, aprendemos com Maria a dar nosso sim a Deus e deixar o Espírito Santo gerar Jesus, pela graça, em nossos corações. Seja o nosso interior, o presépio que esteja sendo preparado para acolher o Menino Deus.

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco.




sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

HOMILIA DO IIIº DOMINGO DO ADVENTO



                Estamos no 3º Domingo do Advento, denominado na liturgia o domingo da alegria, expressando a dimensão alegre da preparação para o Natal do Senhor e para a 2ª Vinda gloriosa. Alegria porque a acolhida do Senhor é salvífica, bem como as disposições que antecedem a mesma: em clima de seriedade (cor roxa), mas alegre e esperançosa (cor rosa, permitida hoje). A antífona da entrada já expressa essa alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4, 4s). A oração inicial também destaca a alegria: “daí chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia”.

                A 1ª leitura (Is 61, 1-2. 10-11) também aponta para a alegria: “Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus. Ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma noiva com suas jóias” (Is 61, 10). Assim o Messias que está próximo vem nos cumular de alegria com a Sua graça, simbolizada nas vestes da salvação. Também a 2ª leitura (1 Ts 5, 16-24) nos ordena: “ Irmãos estão sempre alegres! Rezai sem cessar. Daí graças em todas as circunstâncias” (1 Ts 5, 16).

                Essa alegria está ligada à vida de oração, é o que nos diz a 2ª leitura: “Rezai sem cessar” (1 Ts 5, 17). E dar graças em todas as circunstâncias (1 Ts 5, 18), ou seja, nossa espera do Senhor é em constante ação de graças a nosso Deus. E nesse afã, continua o clima de seriedade em nossa preparação para um santo e abençoado Natal. Seriedade essa que nos interpela “a conservar todo o nosso ser (espírito, alma e corpo) sem mancha alguma” (1 Ts 5, 23). “Deus que nos chama é fiel; Ele mesmo realizara isso” (1 Ts 5,24). Ou seja, nossa santificação é obra da graça de Deus, que deve ser acolhida e colaborarmos com ela.

                A alegria que o Senhor nos trás está vinculada à restauração que Ele nos dá, o que está bem expresso na 1ª leitura: “Enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção aos cativos e a liberdade aos que estão presos, para proclamar o tempo da graça do Senhor” (Is 61, 1-2). E nessa restauração o Senhor “fará germinar a semente, assim como o Senhor Deus fará germinar a justiça e a Sua glória diante de todas as nações” (Is 61, 11). Assim Deus nos estimula, neste Advento, a ver a chegada de Jesus, como esse experimentar a Sua glória, glória que coincide com a nossa felicidade.

                Maria Santíssima é, junto com São João Batista, o modelo de quem espera com amor e alegria a chegada de Jesus. Por isto, o salmo responsorial é o canto do Magnificat, o canto de louvor a Deus, que Nossa Senhora proclamou (Lc 1, 46-55). “A minha alma se alegra em meu Deus” ou como nas traduções já conhecidas: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em deus meu Salvador”, é o refrão pra este canto. Daí, com Maria Santíssima, cantemos o louvor de Deus e o aguardemos com fé, amor e alegria e teremos um santo, feliz e abençoado Natal de Jesus em nossos corações, em nossa vida, em nossos lares, em nossa sociedade.

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

HOMILIA DA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA



               Esta grande festa de Maria Santíssima aponta para o singular privilégio da Mãe de Deus, de ter sido desde o primeiro instante de sua existência, preservada do pecado original. Esse privilégio foi dado a Maria em vista da Redenção operada com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Isto é, ela foi redimida por Jesus também, de um modo todo especial para que pudesse ser a digna Mãe de Deus. Ou seja, ela foi redimida no momento de sua concepção (ou Conceição) em vista dos méritos de Cristo para a honra d’Ele: para que pudesse ter uma Mãe perfeita e Ele como homem, recebesse a natureza humana toda perfeita. É o que vemos na oração inicial.

                A antífona da entrada (de Is 61, 10) mostra que a justificação de Israel (e também da Igreja – o Novo Israel), recai sobre a predileta Filha de Sião (de Jerusalém) de modo pleno: “pois Deus me vestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias”. Assim, Nossa Senhora é revestida de graça e graça plena como o arcanjo Saõ Gabriel a saudou: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28), como está no Evangelho de hoje (Lc 1, 26-38). Notemos que o anjo não diz o nome de Maria, dizendo: “Alegra-te, cheia de graça”.  Isto é, o nome de Maria é substituído pela expressão “cheia de graça”. E como na Bíblia o nome significa o ser da pessoa (por exemplo: Yahveh, o nome de Deus quer dizer “Aquele que é”, Deus é o ser que é por Si mesmo, que é presente para salvar, logo o nome de Maria, a cheia de graça, significa realmente que ela é plena da graça. Não como um adjetivo, não como uma qualidade externa, mas cheia de graça transbordante.

                Nossa Senhora, ao anúncio do anjo, depois de haver recebido a explicação dele, de como seria Virgem e Mãe, por obra do Espírito Santo, dá o seu sim generoso a Deus: “Eis aqui a seva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Por isto, vários Santos Padres (os grandes escritores da Igreja, logo após os apóstolos), colocavam Maria como a Nova Eva. Com efeito, Eva deu um não a Deus, e desse não, veio a morte sobre todos nós. Em contra partida, Maria dá o sim a Deus, e d’Ela vem a vida, que é Jesus. Se Ela é a Nova Eva, foi restaurada a humanidade, como nova em Maria, por graça de Deus e ela colaborou para que assumamos essa nova criação, que vem de Deus, mas deve ser acolhida e vivida por todos nós.

                Na primeira leitura (Gn 3,9-15. 20) vimos a queda de Adão e Eva, no paraíso, através da tentação do demônio, simbolizando numa serpente. Mas Deus promete o Salvador que viria da mulher (certamente não de Eva) mas de outra mulher que esmagaria a cabeça da serpente junto com a sua descendência. Quem é esta Nova Mulher? É Maria Santíssima, certamente, e a descendência dela é Jesus que vence o demônio com Sua Paixão Redentora, dando o sim ao Pai desde a Encarnação, como também na agonia no jardim das oliveiras, e finalmente na Cruz. Maria, ao dar o sim a Deus, na Anunciação do anjo, deu um não ao demônio. E nos ensina a darmos sempre o sim a deus e o não ao demônio.

                Na segunda leitura (Ef 1, 3-6. 11-12) São Paulo aponta para o mistério da predestinação. E entendamos: Deus só faz predestinação positiva, isto é, para a glória do céu. Os condenados não foram (e não serão predestinados ao inferno), mas caem na condenação por própria culpa. Maria Santíssima é predestinada a ser Mãe do Redentor Jesus. Por isto o Pai a escolheu, a amou, a preparou, a justificou lá na eternidade. Nós também devemos nos sentir predestinados à glória do céu (Ef 1, 11-12) não por nossos méritos, mas pelos méritos de Jesus. Nossos méritos serão obtidos após a justificação pela graça, quando somos fiéis à mesma, como Nossa Senhora o foi.

                A Imaculada Conceição de Maria nos convida a vencermos o pecado, pela força da graça, como ela o fez. Posicionarmos na descendência dela, seguindo Jesus o Grande descendente de Maria. Ter em Maria, portanto, a nossa mãe espiritual que, além de rogar por nós junto de Jesus, ela é nosso modelo de fidelidade a Cristo. E amá-la. Como deixar de amar a Maria a quem Jesus mais amou, após Seu a amor ao Pai Eterno? E louvá-la como o anjo a louvou: “ Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo”.

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

HOMILIA DO IIº DOMINGO DO ADVENTO


                O Advento significa chegada. A chegada do Salvador que veio, vem e virá. E nossa postura em face desse tempo litúrgico é o da espera. Por isto, na palavra Advento se mesclam duas atitudes básicas: nos esperamos a chegada do Senhor. Chegada e espera. Por isto, já a antífona da entrada, versículo bíblico que introduz a missa do dia, há a conclamação a essa esperança: “Povo de Sião, o Senhor vem para salvar as nações! E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua voz” (Is 30, 19.30). A oração inicial da Santa Missa aponta o nosso correr ao encontro do Filho de Deus para participarmos da plenitude de Sua vida. Portanto, a chegada do Senhor, em nosso tempo presente, nos faz esperá-lo indo ao Seu encontro. Não é, então, uma espera passiva, mas participativa.

                Na primeira leitura (Is 40, 1-5. 9-11) o profeta, falando em nome de Deus, diz-nos: “Consolai o meu povo, falai ao coração de Jerusalém e dizei que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida” (Is 40, 1-2). Assim, nesse tempo de espera do Senhor, a Igreja é chamada a consolar o povo e comunicar o perdão de Deus. Razão pela qual o tempo do Advento é ocasião de renovação espiritual, de busca de perdão, de fazermos uma santa confissão sacramental. Ao mesmo tempo somos conclamados “a preparar o caminho do Senhor, aplainando a estrada, nivelando-se os vales, rebaixando os montes e colinas, endireitando o que é torto, alisando-se o que é áspero” (Is 40, 3-4). É o que prega São João Batista no Evangelho de hoje (Mc 1, 2-3).

                Nesse afã de consolar o povo, a ordem de Deus é “suba a um alto monte, levanta com força a tua voz, não temas, dize as cidades de Judá: ‘Eis o Vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder” (Is 40, 9b-10). É uma proclamação de boa-nova, de anúncio da boa notícia: Deus está chegando para salvar. E vem “como pastor que apascenta o rebanho, reúne com a força dos braços os cordeiros e carrega-os ao colo” (Is 40, 11). Assim, o Advento é tempo de alegria pela proximidade de Deus, que vem de modo novo neste Santo Natal. O canto do aleluia está presente em nossas celebrações destacando o clima de alegria pela chegada próxima do Senhor.

                João Batista preparou a chegada pública de Jesus com o batismo de conversão para o perdão dos pecados (Mc 1, 4). E João mostra em si, através de suas vestes rudes o preparar-se para acolher o Salvador: simplicidade, pobreza de coração, autenticidade. O Salvador apontado por João é “mais forte que ele, para o qual João Batista não é digno de desamarrar Suas sandálias” (Mc 1, 7). Ou seja, Jesus traz a salvação completa para a qual João foi o pregador. Ainda hoje temos que reunir em nós a realidade de João Batista (preparar a chegada do Senhor em nós mesmos e nos outros), e ao mesmo tempo vivenciar já o nosso ser cristão já tocado pelo Senhor que nos batizou no Espírito Santo (Is 40, 8).

                O Sl 84 (85) tem como refrão: “Mostrai-nos ó Senhor, Vossa bondade e a Vossa salvação nos concedei”. A salvação já recebida tem que ser retomada, reassumida, revivida. O salmo nos mostra que “é a paz que Ele vai anunciar, a paz para o seu povo e sues amigos, para os que voltam ao Senhor seu coração”. E nos diz o mesmo salmo que “está perto a salvação dos que O temem”; razão pela qual entendemos que o Messias vem com a paz que só Ele pode conceder. Paz que se associa à justiça: “a verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” Daí, que a salvação inclui a justiça e a paz.

                A segunda leitura (2 Pd 3, 8-14) revela que a promessa de Sua segunda vinda não está sendo adiada, mas o Senhor usa de paciência para conosco, pois “ não deseja que alguém se perca, mas que todos venham a converter-se” (2 Pd 3, 9). A nossa resposta a essa paciência de Deus é ter o empenho para uma santa e piedosa (2 Pd 3, 11). E retorna a espera de um novo céu e uma nova terra onde habitará a justiça ( 2 Pd 3, 13). Daí “o esforço nosso para que Ele nos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz” (2 Pd 3, 14)

                 Em conclusão, a nossa espera pelo Senhor que vem é uma vida de conversão, de esforço pela paz e pela justiça, como também por santidade e piedade. Aguardar o Senhor ativamente para apresentar-lhe o nosso coração aberto a Ele , desimpedido, com a via de acesso livre.

                Como estamos nos preparando para o Natal do Senhor e para a Sua segunda vinda gloriosa?

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza – Pároco.