sábado, 28 de fevereiro de 2015

O Pai age em Jesus, revelando a sua filiação divina

O livro do Gênesis é o livro das origens: da criação, do mal e da fé no Deus único e verdadeiro. Na primeira leitura, temos o relato do sacrifício de Abraão. Deus não pretende tirar a vida de Isaac, como se pode notar no próprio relato – filho que Abraão teve com Sara já na sua velhice –, mas testar e aprofundar a fé do Patriarca. Para o Antigo Testamento, o sacrifício não é algo negativo, mas positivo, porque une o homem a Deus. Pela sua confiança em Deus, Abraão estava disposto e preparou tudo para oferecer o seu filho. Seu sacrifício e sua fé constituíram-se numa fonte de bênçãos. A promessa de Deus de uma descendência numerosa para Abraão é consequência de sua obediência a Deus. Na leitura cristã do Antigo Testamento, o sacrifício de Isaac é figura do sacrifício de Jesus. O relato da transfiguração do Senhor é a sequência do primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição do Senhor (Mc 8,31-33) e da apresentação das exigências para seguir Jesus (Mc 8,34-38). Os discípulos, entre outros, têm dificuldade de aceitar a novidade do messianismo vivido por Jesus, um Messias que passa pelo sofrimento e pela morte. Desde então, a glória de Jesus está ligada à sua paixão e morte. O caminho do discípulo, no entanto, é o caminho do Mestre. A transfiguração é uma prolepse do mistério pascal de Jesus Cristo. O passivo divino “foi transfigurado” significa que o Pai é quem age em Jesus, revelando a sua filiação divina. A observação de que as vestes ficaram brancas como nenhuma lavadeira conseguiria fazê-lo é o modo bíblico de dizer que se trata de uma revelação de Deus. O desconcerto de Pedro diante do mistério deve ser vencido pela escuta do Filho bem amado de Deus. É preciso escutar Jesus, pois sua mensagem descortina o mistério de Deus; é preciso escutar o Senhor, pois só ele tem “palavras de vida eterna”. A transfiguração de Jesus nos ajuda a compreender que aquele que vai sofrer a paixão e ser glorificado é o Filho de Deus que se encarnou para a nossa salvação. O que sustenta nossa vocação cristã, o que sustenta nossa fé é a graça da ressurreição do Senhor. O sofrimento e a morte não são a última palavra. O Senhor, ressuscitado dos mortos, venceu o mal e a morte; glorioso, nos faz participantes de sua vitória. Este é o conteúdo da esperança cristã. É preciso manter os ouvidos abertos e o olhar fixo no Senhor, que passou pelo sofrimento e pela morte, e ressuscitou. A experiência dos efeitos de sua ressurreição conduz os discípulos, todos nós, a vivermos a adesão à pessoa de Jesus Cristo no cotidiano de nossa vida.

Pe. Carlos Alberto Contieri

FONTE:
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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Jesus transmite o Espírito Santo que purifica


O livro do Levítico, cujo trecho nós temos na primeira leitura, dedica dois capítulos à lepra e nos mostra como os leprosos eram considerados (Lv 13–14). O capítulo 13 revela como se fazia o diagnóstico das diferentes formas de lepra, e o capítulo 14, a maneira como se devia fazer a purificação. A situação dos leprosos era particularmente dura, pois eram considerados impuros, atingidos, feridos e castigados por Deus e retirados do convívio social. A lepra, mais que uma doença, era considerada, do ponto de vista religioso, como uma impureza. Por isso, o leproso que se aproxima de Jesus pede para ser purificado ou, se quiserem, perdoado. No evangelho, ao leproso que se aproxima, Jesus não se esquiva, nem se preocupa em ser contaminado com a impureza. Ao contrário, acolhe a sua súplica e a sua profissão de fé: “se queres, tu tens o poder de purificar-me”. Somente Deus pode purificar alguém atingido pela lepra. A lepra, como observamos acima, é compreendida como um castigo anunciador da morte; ela comunica impureza ao judeu e a todos os de sua casa, mas não ao pagão. Daí o leproso ter de viver fora do acampamento ou da cidade e gritar declarando sua impureza a fim de que ninguém se aproximasse dele, como se pode ver no livro do Levítico. A sua situação é dramática e profundamente humilhante. Para a mentalidade da época, ele é um desprezado por Deus e pelos homens. Jesus se enche de compaixão pelo homem que se aproxima dele suplicando. A compaixão é o sentimento divino que move o mais íntimo da pessoa e a faz agir em benefício do outro. A prontidão de Jesus em atendê-lo manifesta o desejo divino de que todo ser humano, purificado, possa experimentar a vida plena na comunhão com o seu Senhor. A palavra de Jesus é acompanhada pelo gesto com o qual ele toca o leproso. Tocar um leproso era proibido, pois tinha por consequência se tornar impuro. Jesus toca o leproso e não é contaminado, não recebe a impureza do leproso, mas comunica a sua purificação. A atitude de Jesus, tocando o leproso com a mão, transmite o “Espírito puro”, o Espírito Santo que purifica, que devolve ao ser humano o brilho original do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Ao sacerdote cabia igualmente constatar a purificação da lepra, por isso, Jesus envia-lhe aquele que havia sido leproso para que a cura fosse constatada, e este fosse reintegrado no seio da comunidade de fé. A constatação da cura é o testemunho da intervenção divina, de que em Jesus habita a vida de Deus. Purificado, o homem pode proclamar o que Jesus fez por ele.

Pe. Carlos Alberto Contieri

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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Jesus é o Senhor da vida


De modo geral, podemos dizer que o tema da liturgia da palavra deste domingo é o sofrimento: o livro de Jó fala do sofrimento de um homem; no evangelho, Jesus acolhe e vai ao encontro dos que sofrem para que sejam curados de suas enfermidades, e São Paulo fala de como se deve imitar Jesus Cristo, fazendo-se servo de todos. O trecho do livro de Jó é permeado de tristeza e pessimismo. A questão fundamental de todo o livro é o sentido da existência humana. A perda do sentido da vida potencializa o sofrimento. Efetivamente, o sofrimento é absurdo. Somente pela fé em Deus é que se pode viver o sofrimento com serenidade, paz e alegria. Depois da sinagoga, acompanhado das duas duplas de irmãos (cf. Mc 1,16-20), Jesus vai à casa de Simão e André, a poucos metros da Sinagoga de Cafarnanum. Ali, o evangelho nos relata dois episódios: a cura da sogra de Pedro, ainda durante o descanso sabático, e o sumário, resumo da atividade exitosa de Jesus, depois do pôr do sol, isto é, tendo passado já o sábado. Os quatro discípulos, depois os Doze, são testemunhas oculares de tudo o que Jesus fez e ensinou; testemunhas sobre as quais é construído o relato evangélico (cf. Lc 1,1-4). Essa diferença temporal, sábado e depois do sábado, juntamente com o deslocamento espacial, sinagoga e casa, mostra que o Senhor age sempre, em qualquer tempo e lugar. Sua presença muda a vida das pessoas e essa transformação é sentida, inclusive, no próprio corpo. É o Senhor da vida que, com o gesto simbólico de tomar pela mão, como quem arranca alguém do sono – metáfora da morte –, faz a sogra de Pedro se levantar para servir. Não é uma única pessoa a beneficiária da presença do Senhor, mas muitos e de todas as partes podem, se aproximando ou deixando-se aproximar pelo Senhor, experimentar a vida nova que ele dá. Não obstante a fama crescente, Jesus procura os lugares afastados para a sua oração, não se deixando vencer pela tentação do sucesso nem se aprisionar por qualquer lugar, tampouco ser manipulado por quem quer que seja. Paulo é um exemplo a ser seguido. O ideal de sua vida foi imitar Jesus Cristo. Por isso, se fez tudo para todos, isto é, doou-se inteiramente na pregação do evangelho e socorrendo as pessoas e as comunidades cristãs nas suas necessidades. Nós, cristãos do século XXI, somos chamados a imitar Jesus Cristo e com ele e por sua graça sermos servidores do evangelho e de nossos semelhantes.

Pe. Carlos Alberto Contieri

FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho&id=5129
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