sábado, 13 de fevereiro de 2016

A Palavra faz vencer as tentações


Neste início de Quaresma, a liturgia faz-nos pensar na Páscoa. Isto porque o tempo quaresmal não é um fim em si mesmo, mas é caminho de luta e combate espiritual para bem celebrarmos, com o coração dilatado, a Páscoa do Senhor, maior de todas as festas cristãs.
Na primeira leitura, o Deuteronômio apresenta-nos o rito de oferta das primícias da colheita: ao apresentar ao Senhor Deus o fruto da terra, o israelita piedoso confessava que pertencia a um povo de estrangeiros e peregrinos, vindos do Pai Jacó, que não passava de um arameu errante. O israelita fiel recordava diante de Deus a história de Israel, história de escravidão e de libertação: “Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito... Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios nos oprimiram. Clamamos ao Senhor... e o Senhor ouviu a nossa voz e viu a nossa opressão... E o Senhor nos tirou do Egito... E conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra... Por isso eu trago os primeiros frutos da terra que tu me deste, Senhor”. Éramos ninguém e o Senhor nos libertou, deu-nos uma vida nova – eis o resumo da história e da experiência de Israel! Esta também é a nossa experiência, como Igreja, Novo Israel: “Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo”. Também a nossa história é de libertação: éramos escravos, todos nós, do grande Faraó, o Pecado que nos destrói e destrói o mundo. Mas Deus enviou o seu Filho numa carne de pecado (numa natureza sujeita às conseqüências do pecado): ele desceu a este mundo e entrou na nossa miséria, até a morte, a nossa morte. Deus o arrancou da morte; ressuscitou-o e fez dele Senhor e Cristo e quem nele crer e confessá-lo como Senhor na sua vida, encontra a salvação; encontra um novo modo de viver, encontra a paz, encontra já agora a comunhão com Deus e, depois, a Vida eterna! Assim, Israel nasceu da Páscoa do deserto; a Igreja nasceu da Páscoa de Cristo. Israel era escravo, atravessou o mar e o deserto e tornou-se um povo livre para o Senhor. Nós éramos escravos, éramos ninguém, atravessamos as águas do Batismo com Cristo, e ainda que caminhemos neste deserto da vida, somos um povo livre para o Senhor nosso Deus.
O tempo da Quaresma prepara-nos para celebrar este mistério tão grande! Recordemos que a ressurreição de Cristo é causa da nossa ressurreição, é motivo da nossa comunhão com Deus é a razão da nossa fé cristã! Há apenas dois domingos, são Paulo dizia abertamente: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a vossa fé, ainda estais em vossos pecados!” (1Cor. 15,17). Pois bem, neste sagrado tempo quaresmal, a Igreja nos quer preparar para a santa Páscoa, para que revivamos em nós, pessoal e comunitariamente, a libertação que Cristo nos trouxe com a sua vitória. Por isso, a Quaresma é um tempo de combate espiritual e de luta contra o pecado. É um tempo de exame de consciência e de reorientação de nossa adesão ao Cristo Jesus. Só assim, atravessaremos o deserto dos quarenta dias rumo à Terra Prometida da Páscoa de Cristo, que se torna nossa Páscoa. Nosso caminho quaresmal recorda e celebra tantas quaresmas: a do dilúvio, quando durante quarenta dias e quarenta noites o Senhor Deus purificou a terra e a humanidade; a de Moisés, que durante quarenta dias e quarenta noites jejuou e orou sobre o Sinai para encontrar o Senhor que lhe daria a Lei; a de Israel, que caminhou no deserto durante quarenta anos; a de Elias profeta, que caminhou quarenta dias pelo deserto rumo ao Horeb, monte de Deus; a quaresma de Jesus, que antes de iniciar publicamente seu ministério, jejuou e orou quarenta dias e quarenta noites. Eis o caminho de Deus, eis o nosso caminho: caminho de combate espiritual, de busca de Deus, de luta interior, de conversão! Sem Quaresma ninguém celebra verdadeiramente a Páscoa do Senhor!
O evangelho de hoje, apresentando-nos as tentações de Jesus, nos ensina a combater: ele venceu Satanás ali, onde Israel fora vencido: Israel pecou contra Deus murmurando por pão; Jesus abandonou-se ao Pai e venceu; Israel pecou adorando o bezerro de ouro; Jesus venceu recusando dobrar os joelhos diante da proposta de Satanás; Israel pecou tentando a Deus em Massa e Meriba; Jesus rejeitou colocar Deus à prova. Nas tentações de Cristo estão simbolizadas as nossas tentações: a concupiscência da carne (o prazer e a satisfação desregrada dos sentidos), a concupiscência dos olhos (a riqueza e o apego aos bens materiais) e a soberba da vida (o poder e o orgulho auto-suficiente e dominador). Ora, Jesus foi tentado como nós, tentado por nossa causa, por amor de nós. Ele foi tentado como nós, para que nós vençamos como ele! Ele foi tentado não somente naqueles quarenta dias. O evangelho diz que “terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno”. A tentação de Jesus foi até a cruz, quando ele, no combate final, colocou toda a vida nas mãos do Pai e pelo Pai foi ressuscitado, tornando-se causa de vida e ressurreição para nós, que nele cremos, que o seguimos, com ele combatemos e o proclamamos Senhor ressuscitado.
Caminhemos neste santo tempo rumo à Páscoa; usemos como armas de combate no caminho quaresmal a oração, a penitência e a esmola do amor fraterno para que, ao final do caminho, sejamos mais conformes à imagem bendita do Cristo Jesus ressuscitado, nosso Senhor e Deus, vencedor do maligno e da morte, a quem seja a glória pelos séculos.

Dom Henrique Soares da Costa

FONTE: http://homiliadominical2.blogspot.com.br/
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domingo, 7 de fevereiro de 2016

Vocação: pescadores de homens


Evangelho de Lc5,1-11

Depois de ter sido expulso de Nazaré, após se revelar como o enviado de Deus, através de uma leitura feita por Ele numa sinagoga, Jesus mudou o local de suas pregações, deixando as sinagogas para  pregar a céu aberto.  Não, que Ele guardasse algum ressentimento das humilhações sofridas por parte de  seus conterrâneos dentro de uma sinagoga e sim, para ampliar o seu campo de ação!
Nas praias, nas estradas, nas praças, as suas palavras alcançariam um número maior de pessoas, o que podemos constatar no evangelho deste domingo, que começa dizendo: “Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus.”
 O texto que nos é apresentado, é riquíssimo em ensinamentos,  marca o início da relação entre Jesus e os seus primeiros colaboradores! Relação, que começa após uma fracassada pesca, quando Jesus depara com Pedro e seus companheiros lavando as redes na praia, dando como encerrada as frustradas tentativas de pesca.
A iniciativa deste encontro, parte de Jesus, quando Ele decide fazer da barca de Pedro, um local para  mais uma de suas  pregações!
Terminada a pregação, Jesus diz a Pedro: “Avance para águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca”. Mesmo tomado pelo desanimo, Pedro, em obediência a Jesus, faz o que Ele manda e o milagre da pesca acontece! Foi o milagre que abriu os olhos de Pedro e hoje abre também os nossos olhos para uma realidade que muitas vezes  nós não nos damos  conta: a pequenez do humano diante o poder  Divino!
Neste episódio, Pedro reconhece a divindade de Jesus, e numa atitude de humildade, atira-se aos seus pés, se declarando indigno de estar com Ele: “Afasta-te de mim Senhor, porque sou um pecador!” Este reconhecimento de Pedro, não fez com que Jesus afastasse dele, pelo contrário, foi a partir daí, que Jesus o convoca a ser um pescador de homens!
Pedro, um homem de temperamento forte, que acreditava entender tudo de pesca, deixa-se conquistar por Jesus, larga a sua barca na praia e vai buscar outro mar! É na barca de Jesus, que Pedro avança mar adentro levando consigo os seus companheiros! 
Assim como Jesus convidou os primeiros discípulos a mergulharem nas profundezas do mar humano, hoje, Ele nos convida a deixarmos às margens e a  avançarmos para as águas mais profundas, isto é, a nos colocar a serviço do Reino! Ficar às margens, pode até ser cômodo, seguro, afinal, não correremos nenhum risco, mas deixaremos de experimentar as alegrias de navegar na barca de Jesus, o único meio de chegarmos nas profundezas do coração do Pai!
Lançar as redes em águas mais profundas do mar humano, significa abordar o outro, conquistá-lo para Deus, é buscar o novo, é inovar, é tornar ponte para que o outro possa conhecer, ou retomar o caminho da vida! 
A salvação é graça de Deus para todos, diante desta oferta de amor, cada um de nós tem que tomar uma decisão que requer uma resposta de coragem, de compromisso e de fé!
A fé, o ardor missionário, nos desinstala nos estimula a buscar novos meios para anunciar, de  forma criativa a Boa Nova do Reino!
Como seguidores  de Jesus, não podemos ter medo, precisamos arriscar, tomar o remo, mesmo sem conhecer a rota, o decisivo para nós, não é conhecer a rota  é ir, é ter coragem e disposição  para avançar, para  ir mais além, o restante, é com Jesus, Ele nos mostrará a direção, ou seja, Ele é direção, basta segui-lo!

FIQUE NA PAZ DE JESUS! – Olívia Coutinho

FONTE: http://homiliadominical2.blogspot.com.br/
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