domingo, 27 de novembro de 2011

HOMILIA DO Iº DOMINGO DO ADVENTO

Deus é nosso Pai, já exclamava o povo de Israel no antigo Testamento. É o que está na 1ª leitura em dois versículos (Is 63, 16 e 64, 7). E como Pai, Ele é também o redentor e Aquele que nos plasma, como o obreiro ao fabricar os objetos de cerâmica: Somos obras de Suas mãos (64, 7). O texto ainda coloca duas realidades em aparente contradição: “Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de Ti em Teus caminhos.” (64, 4); e o que parece contradizer: “ Todos nós nos tornamos imundície, e todas as nossas boas obras são como um pano sujo, murchamos todos como folhas e nossas maldades empurram-nos como o vento.” (64, 5). A primeira frase parece que nossas boas obras atraem a Deus e a segunda mostra que nossas obras são más. O que entender? Não tentar fazer as boas obras? Se nós entendermos que as boas obras são possíveis sob a força da graça de Deus, então as duas frases supracitadas ficam harmonizadas.

A segunda mensagem desta 1ª leitura é uma súplica para que Deus venha em nosso socorro (63,19). É o que o tempo litúrgico do Advento nos coloca: o Senhor que já veio, venha novamente, ou melhor, renove a Sua vinda e nos restaure. De nossa parte é uma retomada dos caminhos com Deus (64, 4b). Ao mesmo tempo o profeta lamenta porque “não há quem invoque o nome de Deus, quem se levante para encontrar-se com Deus” (64, 6). Daí, o clima espiritual do Advento: sentir-se necessitado de Deus, levantar-se para ir ao seu encontro e suplicar para que Ele venha em nosso socorro.

Jesus é o Senhor que já veio e virá em Sua segunda vinda gloriosa. Por isto, o Evangelho de hoje (Mc 13, 33-37) aponta para essa vinda definitiva. E esse dia é imprevisto. O Senhor compara esta vinda como uma volta ligada ao juízo final: “É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa” (13, 34). Ou seja: Jesus partiu para o céu (Ascensão) e deixou-nos, na Igreja, com tarefas. No mesmo texto Ele nos manda ficar vigiando. Portanto, o tempo do Advento é tempo de vigilância, aguardando a Sua segunda vinda gloriosa (13, 34b-37). Esta vigilância é positiva, isto é, não estamos aguardando um ser terrível, ameaçador, não! Aguardamos o Senhor que vem para nos dar a Sua Vitória plena. O dia do juízo só será terrível para aqueles que não querem o Senhor no tempo presente, por uma falta de fé de modo direto, com má vontade. Esperar o Senhor que nos fará felizes em plenitude.

O Salmo responsorial é um grito esperançoso para que o “Senhor apareça cheio de glória e esplendor”. E que Ele “desperte Seu poder e nos traga a salvação” (Sl 79/80). Que Ele visite a Sua vinha (a Igreja) e a proteja. E de nossa parte há a afirmação de compromisso de não mais O deixarmos. E que Ele nos dê vida, nos dê a salvação. Essa vida Ele começa a nos comunicar desde que nasceu a vinte séculos atrás, em Belém, no seu Natal. Por isto, o Advento é também uma preparação para um santo Natal, retomando o 1º Natal para que este seja reavivado em nós hoje. O Senhor que virá (2ª vinda), já veio (1º Natal). E que vem permanentemente, embora velado na Sua manifestação comunicativa da salvação.

São Paulo, na segunda leitura (1 Cor 1, 3-9) nos fala que “não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo” (1, 7). E “é Ele que nos dá a perseverança em nosso procedimento até o fim, até o dia de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1, 8). Assim, o Advento, além do clima de vigilância é também uma situação de perseverança. E se Deus é fiel (1, 9) como de fato o é, mas também devemos ser fiéis, mantendo a fidelidade.

Aqui, em nossa paróquia de Nossa Senhora das Graças no bairro de Porto Velho, São Gonçalo, RJ, festejamos a nossa padroeira. E, celebrando o 1º domingo do Advento, vejamos em Nossa Senhora o modelo de quem vigiou (para receber o Senhor); de quem clamou (pela vinda d’Ele); de quem O recebeu (em seu seio puríssimo); de quem se manteve fiel a Deus a todo o momento.

Mons. José Geraldo da Silva Pinto


sábado, 19 de novembro de 2011

HOMILIA DO XXXIVº DOMINGO DO TEMPO COMUM


Solenidade de Cristo Rei do Universo


O reinado de Jesus é na linha do Bom Pastor. Por isto, já na primeira leitura (Ez) vemos que Deus vem tomar, Ele próprio o cuidado com suas ovelhas. Ele reconduz as ovelhas dispersas “num dia de nuvens e de trevas”, ou seja, Deus é o Rei-Pastor que se dedica ao rebanho e aquelas ovelhas que haviam sido dispersas pelas provações. E faz a todas repousar. Este repouso está indicado também no salmo 22: “É nos prados da relva mais fresca que me faz repousar. Para as águas tranqüilas me conduz, reconforta a minh’alma”. Ele cura a ovelha ferida, restabelece a doente, protege a que está saudável. Apascenta a todas com justiça, (isto é, num quadro de igualdade, de retidão e retificação. Ao mesmo tempo Ele vai julgar entre “ovelha e ovelha”, isto é, entre uma ovelha que fez o bem e outra que fez o mal) e “entre as ovelhas e os bodes” (ou seja, entre as ovelhas realmente do rebanho e aquelas que falsamente estavam infiltradas). É o rei que reina servindo.

O salmo 22 estende a ação do Pastor-Rei para outras ações de pastoreio: conduz às águas refrescantes, restaura a alma, leva pelos caminhos retos, protege no vale escuro (liberta dos males), ampara com seu cajado. E ainda: perfuma a cabeça com seu óleo (consagra-nos a Ele, alivia as penas, cura em meio ao calor espiritual negativo). Faz transbordar a nossa taça: preenche-nos de bênçãos de alegria. Ele é o Rei-Pastor misericordioso e sumamente bondoso. O salmista se propõe habitar na casa do Senhor por longos dias, o que deve ser nossa intenção: estar sempre na casa do Senhor, em seu templo.

O Evangelho (Mt 25, 31-46) aponta para o Rei-Pastor que virá, no juízo final, para a separação dos bons e dos maus. E o critério dessa separação é da prática autêntica da caridade: “Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo”. (v. 34). E o critério da escolha vem em seguida: “Porque eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. (vv. 35-36). Os salvos perguntarão perplexos, “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber, peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos, enfermo e na prisão e te fomos visitar?” (vv. 37-38). E o Rei responderá: “Em verdade, eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que fizestes”. (v. 40). Portanto, os salvos, as ovelhas autênticas do rei-Pastor que é Jesus, são as que praticaram verdadeiramente a caridade: viram (ou nem sabiam) Jesus no próximo.

E as condenadas, vistas como cabritos (v. 32) são as que não praticaram a caridade, omitiram-se (vv. 41-46). Daí, o Rei que é Jesus e o Pastor que cuida de nós, mas quer ser cuidado, através do cuidar do próximo. Ele quer ser alimentado e receber os demais cuidados, nos irmãos e irmãs.

No juízo final, o Rei Jesus volta com a glória e nos dá a Sua glória, com a ressurreição de todos (1 Cor 15, 20-28). O reinado negativo de Adão, com pecado e morte, é destruído: e vem o reinado de Jesus, o Novo Adão, com a graça e a vida plena. Daí, o reino de Jesus, ser o reino da graça, da vida e da glória verdadeira. Por isto, no juízo final começa de modo visível, e definitivo, o reino da salvação que Jesus nos trouxe com Sua morte e Ressurreição. Ao invés de terror pelo juízo final, o cristão autêntico deve ansiar para que venha depressa o Reino de Deus, como rezamos no Pai-Nosso: “Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome; venha a nós o Vosso reino”. E na Santa Missa, após a consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao ser o povo conclamado a professar a sua fé em Jesus eucarístico, o celebrante diz: “Eis o mistério da fé”. E o povo aclama: “Anunciamos Senhor a Vossa morte e proclamamos a Vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. O que nos conduz a pedir que o Senhor venha depressa no Seu Reino pleno e visível.

O Senhorio de Jesus é discreto, pleno de serviço salvífico a nós. Ele reina pastoreando, servindo a Sua graça. Ao mesmo tempo Ele quer ser servido no próximo. Nós, ovelhas do Senhor, como estamos O acolhendo em si mesmo e nos irmãos? Deixo-me ser conduzido por Jesus, ouvindo a Sua voz, sendo guiado por Ele e caminhando em Seu caminho?

Mons. José Geraldo da Silva Pinto Souza
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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

HOMILIA DO XXXIIIº DOMINGO DO TEMPO COMUM


            O Evangelho de hoje nos convida a tomar posse de nossos talentos, que Deus nos deu. Embora a concessão dos talentos seja diferenciada (a parábola nos diz que um empregado recebeu cinco talentos, outro recebeu dois e o terceiro recebeu um; cf. Mt 25, 14-30) o importante não é a quantidade, mas o esforço em render esses talentos. O evangelho nos diz que o Senhor deu a cada um segundo a sua capacidade (v.15). Não foi por preconceito, nem discriminação, mas cada um de nós recebe de acordo com a respectiva capacidade. Deus não exige de nós além do que podemos.

            Mas, aquele que recebeu um só talento, por medo, enterrou-o na terra e o devolveu sem rendimento algum ao Senhor, foi censurado como mau e preguiçoso (vs 24-26). O Senhor o adverte que, pelo menos, deveria ter posto aquele talento depositado num banco, e na volta do patrão, haveria juros (v.27). E esse empregado perde o único talento e é punido (v.30). Essa mensagem, realidade, aponta para a gravidade da omissão como o pecado maior, porque é causado não por uma tentação, mas por medo e preguiça que provêm do próprio indivíduo omisso.

            Em linha positiva, em forma de premiação, quem recebeu cinco talentos e o outro que recebeu dois, são contemplados porque fizeram rendê-los: recebem os talentos de volta e o número de cidades respectivamente ao número de talentos rendidos. Isto aponta para a necessidade de render os talentos como expressão de tomar posse dos mesmos e fazê-los frutificar. É a dimensão do agir cristão, que desenvolve os dons recebidos de Deus.

            Outrossim, vejamos que talento era o nome de uma moeda preciosa, e o termo, por analogia, entrou em nossa língua portuguesa como sinônimo de dom, que pode significar todas as bênçãos que Deus nos deu e que devem ser percebidas, assumidas e frutificadas. Na primeira leitura (Pr 31, 10-13.19-20.30-31) aparece a figura da mulher diligente que fez atrair os seus dons em trabalho, cuidados com os empregados, com o marido e com os necessitados. Aqui nós podemos ver que o rendimento dos dons não é só em linha de acumulação, mas também em atitude de partilha e distribuição. Esta está em função dos empobrecidos pelas injustiças sociais, com os que estão carentes por doenças e outros motivos.

            Essa mulher eficaz, diligente e bondosa é elogiada como o foram os servos premiados do Evangelho de hoje. Estas atitudes de frutificação e partilha está focalizada também no salmo responsorial (Sl 127), atitudes estas que se vinculam ao temor de Deus (refrão do Salmo), lembrando que esse temor não é medo, mas respeito, acolhida e assimilação do projeto de Deus.

            Por outro lado, a volta do Senhor (dia do Juízo Final) quando o Senhor faz o balanço final (Evangelho) é abordado também na segunda leitura (1 Ts 5, 1-6). E aqui São Paulo nos diz que esse dia “virá como um ladrão” (v.2), ou seja, em dia imprevisto. Mas para quem está agindo como o Senhor o quer, essa dia não será como a vinda do ladrão, ou seja,  o cristão diligente está sempre preparado para a vinda do senhor. Daí, “não dormir, mas ser vigilantes e sóbrios” (v.6). O dormir aqui significa não se deixar dominar pela preguiça, nem pela omissão.

            Em conclusão, o cristão deve ver que dom recebeu. Está atuando-os? Se está, em atividade de frutificação, permanecer a progredir. Se não está, passar a vivenciar a vida em Deus como atitude receptiva e ativa buscando colaborar com Deus na edificação do seu reinado.

Mons. José Geraldo Pinto de Souza

FESTA DA PADROEIRA 2011