sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

HOMILIA I DOMINGO DA QUARESMA


Jesus é conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, para a preparação de Sua missão pública. Ele fica quarenta dias, certamente com orações e jejuns. Essa atitude é a base bíblica para a nossa quaresma: tempo de recolhimento, de jejum e de mais oração. Assim nos aponta o Evangelho de hoje (Mc 1, 12). No deserto Jesus é tentado por satanás, que buscava desviar Jesus de Sua missão (Mateus 4, 1-11 e Lucas 4, 1-13) explicitam isto. Mas, Jesus vence a satanás com a fidelidade ao Pai Celeste, usando as armas da fé, da oração, do jejum e da Palavra de Deus. Essa vitória torna-se efetiva quando Jesus recebe a última tentação por ocasião de Sua paixão. A segunda leitura (1 Pd 3, 15-22) no último versículo, nos diz que “Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a Ele anjos, dominações e potestades” (1 Pd 3, 22). Essa vitória, portanto, Jesus já a obteve para Si e para nós, mas resta-nos assumir essa vitória com o nosso sim a Deus, sempre reafirmado.

Na primeira leitura (Gn 9, 8-15) temos a narração do pós-dilúvio na época de Noé. E Deus faz uma aliança (retoma aquela que foi quebrada por Adão e Eva quando pecaram no Paraíso). Uma aliança da preservação da destruição total, estendida a toda criação. O autor sagrado do livro do Gênesis destaca que Deus coloca “o arco nas nuvens” (o arco-íris) como sinal dessa aliança. Deus mostra que é misericordioso e que não quer a destruição de nada nem de ninguém. São Pedro, na segunda leitura aponta a arca de Noé, na qual foram salvos do dilúvio oito pessoas e um casal de cada animal, sendo a referida água um símbolo do Batismo que nos salva e a própria arca é então uma imagem da Igreja na qual somos salvos por Jesus.

Jesus inicia a Sua missão pública pregando o Evangelho: “O tempo já se completou e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Para nós cristãos, que já temos a vida em Cristo, a nossa conversão é uma retomada, um reassumir o nosso Batismo, numa fé mais forte e mais efetiva. E a conversão, significa mudança de mentalidade e de caminho, é um firmar-se mais e mais nos valores do Reino de Deus, sob a nossa entrega a Jesus cada vez mais. O Salmo, então, nos coloca no clima de súplica a Deus para que Ele nos mostre os Seus caminhos, para que Ele se recorde da Sua ternura e compaixão, reconduzindo-nos ao bom caminho, para que vençamos o pecado. E a maior vitória sobre o demônio é vencermos o pecado, certamente ajudados pela graça de Deus.

Nossa conversão a Deus implica na conversão do amor ao próximo. Por isto, a Campanha da Fraternidade é lançada, aqui no Brasil, pela CNBB, visando essa dimensão de retomada ao amor dos irmãos e irmãs. Neste ano de 2012, o tema da CF é “Fraternidade e Saúde Pública” tendo como lema “Que a saúde se difunda sobre a terra” (lema baseado em Eclo 38, 8). Deste modo a Igreja no Brasil almeja que o nosso amor ao próximo seja enfocado, principalmente neste ano, na saúde pública, ou seja, na saúde promovida pelo Estado. Mas, não podemos deixar tudo para o Estado: este deve ser conscientizado sobre isto, mas, toda a sociedade deve também agir melhor para que todos tenham a saúde promovida. Todos são filhos e filhas de Deus, e, portanto, todos merecem e precisam da saúde para uma vida digna e que possa cantar a glória de Deus.


Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza
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sábado, 18 de fevereiro de 2012

HOMILIA 7º DOMINGO DO TEMPO COMUM


JJesus anunciava a Palavra, quando trazem-lhe um paralítico carregado por quatro homens. Para chegar perto de Jesus tiveram que abrir o teto bem em cima do lugar onde estava o Senhor. E desceram o enfermo na cama com cordas auxiliares (Mc 2, 1 – 4). Vendo a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho os teus pecados estão perdoados.” Os mestres da lei hebraica que estavam ali disseram em seus corações: “Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus.” (Mc 2, 5 – 7). Mas, o Senhor lhes responde dizendo: “Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil dizer ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados” ou dizer: “Levanta-te, pega a tua cama e anda”? De fato, pelas próprias forças humanas, não se pode nem curar um paralítico (só com palavras) e nem perdoar pecados. A Igreja pode perdoar os pecados, através do sacramento da confissão porque Jesus lhe deu ordem para tal (cf. Jo 20, 23). E prossegue Jesus: “Para que saibais, que o Filho do Homem (Ele, Jesus) tem, na terra, poder de perdoar pecados – disse Ele ao paralítico – eu te ordeno: levanta-te pega tua cama e vai para  tua casa!”O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos”. E ficaram maravilhados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim” (Mc 2, 9 – 12).

É de se notar que o paralítico não havia dito nada: nem pediu a cura, nem disse estar arrependido. Mas os seus gestos concretos fazem denotar isto: deixou-se ser levado a Jesus e assumiu a cura e o perdão que Jesus lhe deu, obedecendo-O e indo livre para sua casa. Por outro lado a fé daqueles homens, embora também não tivessem dito nada, expressou a súplica deles a Jesus em favor do homem enfermo. Aqui podemos notar o poder e a função da intercessão.

Passando à 1ª leitura (Is 43, 18 – 19. 21 – 22. 24 – 25) percebemos que Deus nos manda não ficar lembrando as coisas passadas, não olhar para os fatos antigos. Ou seja, Deus quer que nos desliguemos dos pecados passados e nos abramos ao Seu perdão restaurador. Ao mesmo tempo em que isto implica também na cura de lembranças dolorosas. Deus anuncia essa restauração através de imagens da natureza: uma estrada aberta no deserto e rios na terra seca. Por outro lado, Deus se lamenta do povo em ter esquecido o Senhor, ter-se fatigado d´Ele, cansando a Ele com as maldades humanas. O que pode acontecer conosco também: cansar-se de Deus e não se voltar mais a Ele: Mas fomos criados para cantar os louvores ao Senhor (Is 43, 21). E esse louvor só o podemos fazer experimentando a restauração divina em nós. E para tal Deus, na Sua infinita misericórdia “cancela as nossas culpas, por minha (d’Ele) causa e já não me lembrarei de teus (do povo) pecados” ( Is 43, 25).

O salmo 40 (41) nos aponta uma oração de súplica por perdão expressa no refrão: “Curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!” E o mesmo salmo destaca uma condição para receber o perdão de Deus (além do arrependimento): “feliz de quem pensa no pobre e no fraco: o Senhor o liberta no dia do mal”. Isto é, para que Deus veja a nossa fraqueza e nos liberte, temos que ver a fraqueza do próximo para ajudá-lo (como os homens que levaram o paralítico a Jesus). Continua o salmo dizendo que Deus vai amparar no leito de dor e transformar a doença em vigor, àquele que se abriu ao sofrimento do próximo. E uma súplica conclui a 2ª quadra do salmo: “curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!”

A segunda leitura (2 Cor 1, 18 – 22) nos convida a um “sim” permanente a Deus, assim como Jesus que foi um “sim” permanente a Deus Pai: Não houve em Jesus uma mistura de “sim” e de “não”, mas somente um “sim”. N’Ele  todas as promessas de Deus Pai têm o seu “sim”. É Jesus, portanto o “sim” permanente do Pai a nós (para nos salvar) e o “sim” permanente do Senhor Jesus ao Pai e a nós. Por Ele dizemos “amém” a Deus, para a sua glória. E é Deus que nos confirma em nossa adesão a Cristo que nos ungiu ( com o espírito Santo). O “não” é o pecado e a incredulidade, que procedem do mundo, do maligno e de nossa natureza inclinado ao mal. Daí, reafirmar o nosso sim (a fé e a fidelidade) a Deus Pai, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo.

Em suma, acolher o perdão e a restauração que Deus quer nos dar, mediante o ir a Jesus, suplicar-lhe, arrepender-se, mudar para uma vida só de “sim” a Deus e ir ao encontro do irmão que sofre seja na doença, seja no pecado, para conduzi-lo a Jesus e receber d’Ele a restauração.

Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza 
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sábado, 11 de fevereiro de 2012

HOMILIA 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Jesus cura um leproso, que lhe suplicou de joelhos: “Se queres, tens o poder de curar-me” (Mc 1,40). Jesus atendeu a essa pessoa, cheio de compaixão, estendeu a mão e tocou nele e disse: “Eu quero, fique curado!” (Mc 1,41-42). Jesus realiza uma cura bem além da lepra física, ao tocar no enfermo, denotando que Ele quebrava o tabu em relação aos leprosos (estes deviam ser colocados à parte gritando “leprosos”, e não podiam se aproximar das pessoas sadias; e eram consideradas, sob maldição). O tabu quebrado é que Jesus toca no leproso, sente compaixão e não repulsa.  Jesus envia o homem curado ao sacerdote e que oferecesse uma oblação de gratidão (Mc 1,44), cumprindo uma prescrição que Moisés havia feito e ao mesmo tempo recebendo do sacerdote (autoridade para isto, na época), a reintegração na sociedade israelita de então (ibidem).

O homem curado cumpria essa determinação e passou a contar e a divulgar muito o fato de sua cura (Mc 1,45). O povo acorria a Jesus, certamente para obter graças de Jesus. O Senhor, então ficava fora da cidade, em lugares desertos (Mc 1,45), certamente para a oração e repouso. Fé, súplica e coragem do homem que era leproso (este não podia se aproximar das pessoas sadias) e se aproximou de Jesus. Compaixão e prontidão de Jesus em atender ao homem suplicante, foi o outro fator de cura. Também em nossa vida diária temos que ter as mesmas atitudes e Jesus nos atenderá do mesmo modo.

 Na primeira Leitura temos a cura da lepra, feita por Deus, através da intercessão do profeta Eliseu, a Naamã da Síria que veio ao encontro do profeta. Este havia mandado que o sírio mergulhasse sete vezes no rio Jordão para que ficasse curado (2 Rs 5,10). A principio Naamã recusou-se a fazer isto, pensando consigo que os rios lá da Síria eram mais belos que o rio do Jordão e quis voltar para casa com sua lepra. Mas os seus servos o estimularam a cumprir essa ordem de Eliseu, que mandara fazer uma coisa simples. E que “se o profeta lhe mandasse fazer algo difícil não o faria? Quanto mais essa ordem tão simples, porque não fazê-lo?” (2 Rs 5, 13). Naamã acolhe o que os seus servos lhe aconselharam e, mergulhando as setes vezes no rio Jordão, fica totalmente curado (2 Rs 5, 14). A sabedoria veio, portanto, de simples servos. E o general Sírio teve a humildade de acolher essa sabedoria.

O Salmo responsorial (31/32) coloca a purificação da alma, curado da lepra espiritual, que é o pecado. E declara “feliz o homem que foi perdoado e cuja a falta já foi encoberta”, “em cuja alma não há falsidade”. E destaca a necessidade da confissão: “Eu irei confessar meu pecado e perdoaste, Senhor, minha falta”. É importante ressaltar que o israelita não se confessa diretamente a Deus, mas se apresentava ao sacerdote para apresentar a Deus, através de seu ministro, a oblação de reparação pelo pecado. Como o leproso curado do Evangelho, devia ir ao sacerdote fora atestar publicamente a sua cura, em cuja ocasião agradecia a Deus e tinha a confirmação de sua cura. Ao mesmo tempo em que, se confessava, de certa forma, porque a lepra era considerada como maldição, direta ou indiretamente ligada ao pecado.

Hoje, a lepra espiritual, certamente o pecado, deve conduzir a pessoa ao sacerdote, com arrependimento e confissão. Paulo na segunda leitura (1 Cor 10, 31-11,1), nos ordena que não escandalizemos a ninguém, fazendo tudo para agradar a todos, não buscando o que é vantajoso para si mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos. Dentro do contexto dessa reflexão acima, evitar a lepra do pecado do egoísmo, abrindo-se para o amor fraterno realmente. E Paulo aponta o seu próprio exemplo: “sede meus imitadores como também eu o sou de Cristo”.

Em conclusão: Evitar a lepra do pecado, mas se a pessoa cair ir a Jesus através do sacerdote, para receber a sua regeneração espiritual. Também ajudar a quem está mergulhado no pecado, para que possa mergulhar nas águas do Divino Espírito Santo e torne-se nova criatura. Para quem já foi batizado isto significa ir ao sacramento da confissão. Saber acolher é saber dar bons conselhos, que é uma das obras de caridade espiritual. Como também dar bons exemplos, que é uma forma viva de dar bons conselhos.

Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza 
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

HOMILIA 5º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Jesus é a resposta de amor ao gênero humano, que o Pai nos dá. Ele vem restaurar-nos tal como fez no Evangelho de hoje: curou de febre a sogra de Pedro, como todos os doentes e os possuídos pelo demônio, na cidade de Cafarnam. O Evangelho enfatiza: “Jesus curou muitas doenças e expulsou muitos demônios” (Mc 1,34). “E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem Ele era”(Mc 1,34b). Daí não podemos admitir um reducionismo em que alguns pretendem ver essas possessões malignas como meras doenças mentais, porque os demônios sabiam quem Ele era. É claro que não podemos dizer que toda doença é ação do demônio, porque há fatores naturais que atuam nas doenças. Mas mesmo em caso de doenças Jesus curou-as, o que nos conduz a concluir que a cura pode ser feita pelas ciências e artes da saúde, mas também pode receber o influxo restaurador de Deus.

A condição básica para recebermos a ação restauradora de Jesus é a oração. Ele mesmo demonstrou que a oração é tão importante, que o fazia orar: “de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). E vida de oração que se integra à escuta e à pregação da Palavra de Deus: “Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. Quando o encontraram, disseram: Todos estão te procurando”. Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, a aldeias da redondeza, devo pregar também ali, pois foi para isso que vim” (Mc 1,36-39).

Na primeira leitura (Jó 7,1-4.6-7), Jó expressa sua dor em meio as suas provações, fazendo notar que a vida do homem sobre a terra é uma luta. Os dias como de um mercenário, ou seja, de trabalhos constantes, como também a vida do escravo que anseia por uma sombra, em meio ao calor. E que tudo pode levar, como aconteceu com Jó, à decepção. Isto pode acontecer quando o trabalho não tem referencia à eternidade, onde está a vida verdadeira, como também quando os ganhos do trabalho se fechem ser humano, que não se abre para a caridade para com o próximo. O problema está no acúmulo egoístico. Jó termina, no texto de hoje, com uma oração a Deus: “Lembra-Te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade” (Jó 7,7). Mas a esperança dever ser reavivada nos enfermos, sabendo que Jesus quer a restauração, que é obtida pela fé. Fé e esperança são ferramentas para vencer o sofrimento e a doença.

A pregação do Evangelho não é motivo de gloria para Paulo (ou tenda-se a gloria humana) é uma necessidade para ele (1Cor 9,16). E chega a exclamar: “Ai de mim se eu não pregar o evangelho!” (ibidem) e aponta que essa pregação não é iniciativa dele, mas de Deus mesmo, um encargo que lhe foi confiado. (1 Cor 9,17). Percebe também que o seu salário, a sua recompensa, é a gratuidade, isto é, Ele prega sem querer benefícios terrenos, mas os que são eternos. Sente-se livre pra ganhar o maior número possível de pessoas para Jesus. Fez-se fraco com os fracos para ganhar para Deus. Certamente, Paulo tinha vida de oração, como sabemos por outros escritos do Novo Testamento.

Em conclusão, podemos vencer todo o mal, estando unidos a Jesus pela oração, pela leitura e meditação de sua palavra. Essa vitória também acontece na pregação da mesma santa Palavra. O importante é não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem.

Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza
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