sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Duas atitudes diante do chamado de Deus.


Como está o nosso sim ou a nossa adesão a Deus? A teologia da retribuição faz parte de uma mentalidade que perpassa quase todo o Antigo Testamento. O trecho do livro do profeta Ezequiel nos põe às portas da primeira deportação dos judeus para a Babilônia, em 597 a.C. A deportação mais importante foi a do ano 587 a.C., e a terceira foi em 582 a.C. Ante a iminência do exílio, o povo de Deus blasfema pondo em Deus a culpa de seu fracasso. Mas Deus não se cala; nem sempre Deus silencia. É Ele quem revela as faltas do seu povo. O exílio é o fruto podre das alianças políticas equivocadas e consequência do abandono, por parte do povo, do Deus que os havia libertado da casa da servidão. A injustiça que eles cometeram foi abandonar os mandamentos do Senhor para seguir suas próprias inclinações más. É preciso compreender que Deus não nos trata segundo as nossas faltas, nem é Ele que está na origem de nossos males. Deus provoca a conversão e acolhe todo pecador que se converte. Nesse sentido, o texto de hoje do profeta Ezequiel é um apelo à conversão.


A parábola dos dois filhos representa duas atitudes diante do chamado de Deus. Essa parábola é a sequência do diálogo com os sumos sacerdotes e anciãos em que eles perguntam a Jesus, perplexos pela sua atitude de expulsar do Templo os cambistas e os comerciantes (Mt 21,12-16), quanto à origem de sua autoridade: “quem te concedeu essa autoridade?” (v. 23). A pergunta deles revela a resistência em reconhecer a origem divina de Jesus. Desejam desmascarar Jesus, mas diante de Jesus é a máscara deles que cai por terra. O filho que diz não ao seu pai e, depois, acaba indo trabalhar na vinha, vale mais do que aquele que diz sim, mas não obedece. Um homem de verdade é reconhecido por seus atos, não por suas intenções. Imaginemos um banquete em que os lugares eram distribuídos em função da dignidade das pessoas. O anúncio de Jesus significa que os publicanos e as prostitutas, cujas vidas, num primeiro momento, representavam um não a Deus, ocupam, no Reino dos Céus, o lugar reservado aos sumos sacerdotes e aos anciãos. Por quê? Por que eles ouviram a pregação de João Batista e se converteram. Os sumos sacerdotes e os anciãos, ao contrário, resistiram em crer em João, como resistem em crer em Jesus, apesar de terem visto as boas obras, e não se converteram.

Carlos Alberto Contieri, sj


FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho


sábado, 20 de setembro de 2014

Deus está perto de nós.



Onde está Deus, quando sofremos? Na nossa desolação, onde encontrar Deus? São perguntas que o trecho do livro do profeta Isaías busca responder. Este trecho do livro do profeta Isaías retrata a situação de desolação dos exilados, membros do povo de Deus, na Babilônia. Os longos anos do exílio faziam com que perdessem a esperança de um dia retornarem à Israel. Com isso, sentiam igualmente que Deus os tinha abandonado e se esquecido deles. A voz inspirada do profeta se levanta para dar ânimo: o Senhor se deixa encontrar, pois, Ele está perto (Is 55,6). Quando sofremos, em qualquer situação, Deus está perto de nós; e, se sofremos, Deus sofre com o nosso sofrimento. A vida do seu povo, a vida de cada um em particular, interessa a Deus. Mas é preciso abandonar a impiedade, isto é, um modo de proceder e agir que semeia o joio da maldade no seio mesmo da comunidade de fé, desestimulando os membros do povo de Deus da confiança no seu Senhor. É preciso centrar a vida e a esperança no desígnio salvífico de Deus.

Temos algum direito sobre a salvação? A salvação é oferecida a uns e não a outros? Deus faz distinção de pessoas? A salvação é retribuição pelo bem realizado? Na parábola dos operários da undécima hora, é o próprio patrão, dono da vinha, que em diferentes horas do dia sai às praças chamando os operários para o trabalho na sua vinha, até a última hora da jornada de trabalho. Em todos os tempos e a todos, indistintamente, Deus chama para participar da sua própria vida. A salvação é um dom: é o dono da vinha que chama operários para o trabalho na vinha. A murmuração dos que foram chamados primeiro a trabalhar na vinha, contra o patrão que pagou o mesmo salário para os últimos admitidos, é a expressão da dificuldade vivida pela comunidade cristã primitiva, sobretudo, entre judeo-cristãos e cristãos oriundos do mundo pagão. Todos igualmente recebem o dom da salvação, sem nenhum privilégio ou direito de precedência? Sim! Pois o verdadeiro salário não é contrapartida do trabalho realizado na vinha; o verdadeiro salário, isto é, a verdadeira recompensa, é ter sido chamado e admitido no Reino de Deus. O verdadeiro salário está em ser chamado a participar da vida divina. O amor de Deus não segue a lógica matemática de nossas atitudes: “meus planos não são vossos planos, vossos caminhos não são meus caminhos” (Is 55,8). A salvação é dom de Deus e, como tal, ela deve ser recebida e vivida.

Carlos Alberto Contieri, sj

FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A cruz de Jesus Cristo é expressão do amor de Deus.


A festa da exaltação da Santa Cruz remonta a meados do século IV d.C., quando o bispo de Jerusalém, na festa da dedicação da dupla basílica, constituída por duas igrejas, a igreja da Ressurreição e a igreja do martírio, levantou uma relíquia da cruz e a apresentou ao povo para a veneração. Desse gesto é que deriva o nome de exaltação da Santa Cruz. Mas é na Sexta-Feira Santa que, a cada ano, os cristãos veneramos a cruz do Senhor como penhor de nossa salvação. A cruz de Jesus Cristo é expressão do amor de Deus por toda a humanidade. No entanto, tenhamos todos muito claro que a mística cristã não é a mística da cruz, mas a mística do Crucificado.

O evangelho de hoje faz referência explícita ao episódio relatado no livro dos Números que lemos na primeira leitura. Durante a travessia pelo deserto rumo à terra da promessa, a tentação frequente do povo, que Deus havia tirado da casa da servidão, era de voltar atrás (Nm 21,5). Tinha sido libertado por Deus da escravidão, mas não tinha superado e se libertado da mentalidade de escravo. Será preciso um longo e dolorido caminho para que essa páscoa aconteça. A causa do que eles imaginavam ser o castigo de Deus, era, na verdade, consequência da falta de confiança e da murmuração contra Deus. A serpente de bronze levantada numa haste era expressão de uma crença de que, tendo o inimigo numa imagem, ele seria controlado. O texto apresenta uma novidade em relação a outros prodígios de Deus ao longo da travessia pelo deserto; ele exige, de quem quer ser salvo, fixar o olhar no emblema (vv. 8-9). O livro da Sabedoria, relendo esse fato, dá a ele um alcance teológico: é Deus quem liberta de todo mal (Sb 16,5-8).
Para o trecho do evangelho de hoje, no qual o episódio do livro dos Números é utilizado, a elevação de Jesus Cristo é o antítipo da serpente elevada. O trecho faz parte da catequese batismal do capítulo 3 do evangelho de João. Essa nossa perícope dá uma interpretação cristológica ao episódio narrado pelo autor do livro dos Números: quem salva e cura da morte é Jesus Cristo. É pela fé em Jesus Cristo, crucificado, morto e ressuscitado, que se é salvo e se tem a vida eterna.

Carlos Alberto Contieri, sj


FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 6 de setembro de 2014

A missão do profeta.



O profeta Ezequiel é contemporâneo do profeta Jeremias. Ao contrário de Jeremias que, durante o exílio na Babilônia, ficou em Judá, Ezequiel foi para a Babilônia com os deportados. Sua missão tinha um duplo aspecto: ajudar o povo exilado a não se esquecer de que, ao contrário do que eles pensavam, Deus não os havia abandonado, mas estava com eles, e manter viva a esperança do retorno à terra dos seus antepassados. O texto autobiográfico que, hoje, lemos, apresenta Ezequiel como sentinela da casa de Israel (cf. Ez 33,1-7). Enquanto tal, ele deve alertar contra o inimigo que ameaça o povo. A missão do profeta é prevenir o povo contra tudo o que possa ameaçar a esperança e a fidelidade ao Deus de Israel. Ele compreende que sua missão, enquanto sentinela da casa de Israel é também de despertar no povo o desejo de conversão.

O evangelho de hoje é parte do discurso sobre a Igreja, em que Jesus instrui os seus discípulos acerca dos aspectos essenciais da vida comunitária cristã. A comunidade cristã é uma comunidade de reconciliados, por isso, o perdão deve ser uma das marcas de sua existência. No trecho anterior ao apresentado pela liturgia deste domingo, duas características da comunidade eclesial foram ressaltadas: a comunidade cristã deve ser caracterizada pelo serviço e pelo cuidado de uns para com os outros, de modo especial pelos “pequeninos”, isto é, por aqueles que se sentem, por algum motivo, desprezados e não valorizados, e que correm, por isso, o risco de abandonar a comunidade.

 Nosso texto de hoje é, por assim dizer, a aplicação prática do desejo de Deus de que nenhum membro da comunidade se perca (v. 14). A atitude exigida para realizar o desejo de Deus é a iniciativa que cada um deve tomar no que diz respeito à reconciliação, tendo presente que a comunidade cristã é uma comunidade de irmãos (v. 15). O pecado divide a comunidade. Se acontecer a alguém ser vítima do pecado de outro membro da comunidade, trata-se, aqui, de tomar a iniciativa de ajudar o pecador no seu processo de conversão, desde que ele aceite livremente. É Deus quem toma a iniciativa de vir em socorro de nossa humanidade e é ele quem oferece, gratuitamente, o seu perdão. A comunidade cristã é chamada a ser reflexo da misericórdia divina (Mt 5,48; Lc 6,36; 15). Assim como Deus não desiste de nós, também não devemos desistir de nossos irmãos. O único limite para o perdão e a reconciliação é o fechamento do outro (v. 17). O amor fraterno e, consequentemente, a comunidade cristã são construídos através desse esforço permanente de reconciliação. 

Carlos Alberto Contieri, sj

FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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