sábado, 15 de novembro de 2014

Que tipo de servo Deus deseja.


A leitura de Provérbios trata da característica da mulher, entenda-se, esposa ideal. A mulher ideal é aquela que vive no temor a Deus ou, o que é o mesmo, no reconhecimento reverencial de que todo bem procede de Deus. A palavra temor pode, legitimamente, ser compreendida como amor. A mulher ideal, então, é aquela que, em primeiro lugar, ama a Deus. É em razão desse amor que ela, na sua casa, dá segurança ao marido e faz sua família viver das obras da sua mão. Não é a beleza nem a formosura que caracteriza a mulher ideal, mas o temor de Deus. A beleza e a formosura desaparecem com o tempo. O amor, no entanto, não passa (cf. 1Cor 13,13). O amor faz viver para o outro, dá sentido e gosto a tudo. A mulher é para o nosso texto símbolo do povo de Deus. Daí que a característica fundamental do povo de Deus é o temor do Senhor, no sentido que acima expusemos.
O evangelho deste domingo, a parábola mais extensa do Novo Testamento, apresenta o colaborador que Deus deseja, o discípulo que o Senhor deseja. A parábola é parte do discurso escatológico (24–25). Ela insiste no juízo do terceiro servo que enterrou o talento recebido. Se observarmos bem, dos dezessete versículos que integram o nosso texto, sete são dedicados a ele. Essa insistência é para alertar os discípulos, destinatários da parábola, contra a atitude representada pelo terceiro servo. Na antiguidade, uma moeda valia por seu peso. Um talento equivale a 34 quilos. Os dois primeiros servos não se limitaram a executar ordens, nem a se proteger, enterrando o bem do seu patrão. Eles tomaram a iniciativa de fazer render os bens e os multiplicaram. O terceiro servo, ao contrário, enterrou o talento que havia recebido. Para a mentalidade rabínica, o terceiro servo agiu em conformidade com a lei (Ex 22,6-7; Lv 5,21-26), donde se conclui que não há o que reprová-lo em sua atitude. Mas essa não é a posição de Jesus. O comportamento do terceiro servo é motivado pelo medo (cf. Rm 8,15). O que o “patrão” reprova é a mentalidade de escravo que impede de agir livremente e acomoda a pessoa nas suas próprias seguranças. Não se pode viver e servir a Deus sem arriscar. O espírito servil faz com que a pessoa não faça nada além do estritamente necessário e do que ela julga ser o seu dever. Elogiando os dois primeiros servos e repreendendo o terceiro, o evangelho indica que tipo de servo Deus deseja: aquele que faz valer o dom de Deus e não mede esforços para tal. 


Carlos Alberto Contieri, sj

FONTE:
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 8 de novembro de 2014

Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita.


Com as nuances próprias a cada evangelista, o episódio da purificação do Templo encontra-se também nos evangelhos sinóticos (Mt 21,12-13; Mc 11,11.15-17; Lc 9,45-46). Era escandaloso o que acontecia no Templo, de modo especial nas grandes festas judaicas e, sobretudo, na Páscoa. Os sumos sacerdotes e toda a aristocracia ligada ao Templo se aproveitavam das festas religiosas para intensificar o comércio e, consequentemente, o câmbio de moedas. Aproveitam-se da obrigatoriedade que todo judeu piedoso tinha de oferecer sacrifícios e das longas distâncias que os peregrinos percorriam para chegarem a Jerusalém, a fim de comercializarem todo tipo de animais prescritos pela Lei para serem oferecidos em sacrifício. Além disso, a moeda para a compra tinha de ser pura, isto é, não podia conter nenhuma efígie ou inscrição que pudesse denotar idolatria. Daí a necessidade de os compradores terem de trocar suas moedas pela moeda “pura” do Templo de Jerusalém, inclusive para fazerem as ofertas voluntárias que eram depositadas nos cofres (cf. Lc 21,1-4). A cena é dramática: com um chicote, Jesus expulsa do Templo comerciantes e cambistas. A razão da atitude de Jesus, sentida como violenta pelos judeus, é dada pela evocação de uma passagem do profeta Zacarias: “… Já não haverá mercadores no Templo do Senhor dos exércitos” (Zc 14,21) e pela recordação dos discípulos que encontram no Sl 69,10 uma justificativa pelo que Jesus fez. A pergunta dos judeus a Jesus é pelo significado do gesto. Ao que Jesus responde, em primeiro lugar, numa profecia ex eventu, de que o Templo construído por mãos humanas será destruído e passará, e, em segundo lugar, revela um novo lugar da habitação de Deus. Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita; onde Ele é encontrado e se deixa encontrar. Ele é que será destruído, na morte violenta numa cruz, mas reerguido pelo poder de Deus, com sua gloriosa ressurreição. O anúncio da destruição do Templo de Jerusalém é anúncio, igualmente, da abolição dos sacrifícios antigos, pois eles não podiam salvar os homens de seus pecados; somente o Cristo que ofereceu o sacrifício de sua vida de uma vez por todas e entrou no santuário eterno é que salva toda a humanidade (cf. Hb 9,1-14; 10,11-18).

Carlos Alberto Contieri, sj

FONTE:

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domingo, 2 de novembro de 2014

O sopro de Deus faz viver para além da morte.


O fundamento da fé da Igreja é a ressurreição de Jesus Cristo. A celebração da memória de todos os fiéis defuntos é ocasião de suplicar a Deus a graça da fé na ressurreição de Cristo, condição para crermos na Páscoa eterna daqueles que já partiram deste mundo. É por essa razão que, neste dia de finados, a Igreja nos oferece esse trecho do capítulo 11 de João, que é uma catequese sobre a ressurreição. Nosso relato (Jo 11,1-45) é o sétimo e último sinal que Jesus realiza. Isso significa que ele é a plenitude dos sinais. A finalidade dos sinais, como de todo o evangelho, é conduzir os discípulos, o leitor do evangelho, nós todos, à fé em Jesus Cristo (cf. Jo 20,30-31). Com esse relato, o autor do evangelho prepara o leitor para entrar com esperança nos relatos da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

O sopro de Deus faz viver para além da morte. No centro do texto do evangelho, trecho que não lemos neste dia, está a afirmação de Jesus a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida” (v. 25). É pela fé que se participa dessa vida nova, transfigurada. A pergunta que provoca e desafia a fé de Marta e a nossa fé é a seguinte: “Crês nisto?” (v. 26). Marta responde afirmativamente, pois ela é no relato símbolo do discípulo perfeito que põe a sua confiança no Senhor. Ante a morte há, segundo nosso texto, duas atitudes possíveis, representadas por Maria e sua irmã Marta: ficar prisioneiro do círculo da morte e do luto (Maria) ou romper com esse círculo pela adesão ao Senhor da vida (Marta). Quando Marta ouviu dizer que Jesus estava próximo, saiu correndo ao seu encontro; Maria, no entanto, permaneceu em casa, sentada, mergulhada no luto e na tristeza. A presença do Senhor suscita a esperança. Permanecer em casa é fechar-se à possibilidade da fé. Marta que crê na ressurreição de Cristo, na vida que ele dá, será para sua irmã Maria mensageira de um chamado do Senhor que a faz sair do mundo da morte para estar diante daquele que é o Senhor da vida. A pergunta que se nos impõe a partir do relato para a nossa reflexão é a seguinte: com qual das duas irmãs você se identifica? Você é portador de que mensagem?

Carlos Alberto Contieri, sj

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