Carlos Alberto Contieri, sj
sábado, 8 de novembro de 2014
Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita.
Com
as nuances próprias a cada evangelista, o episódio da purificação do Templo
encontra-se também nos evangelhos sinóticos (Mt 21,12-13; Mc 11,11.15-17; Lc
9,45-46). Era escandaloso o que acontecia no Templo, de modo especial nas
grandes festas judaicas e, sobretudo, na Páscoa. Os sumos sacerdotes e toda a
aristocracia ligada ao Templo se aproveitavam das festas religiosas para
intensificar o comércio e, consequentemente, o câmbio de moedas. Aproveitam-se
da obrigatoriedade que todo judeu piedoso tinha de oferecer sacrifícios e das
longas distâncias que os peregrinos percorriam para chegarem a Jerusalém, a fim
de comercializarem todo tipo de animais prescritos pela Lei para serem
oferecidos em sacrifício. Além disso, a moeda para a compra tinha de ser pura,
isto é, não podia conter nenhuma efígie ou inscrição que pudesse denotar
idolatria. Daí a necessidade de os compradores terem de trocar suas moedas pela
moeda “pura” do Templo de Jerusalém, inclusive para fazerem as ofertas
voluntárias que eram depositadas nos cofres (cf. Lc 21,1-4). A cena é
dramática: com um chicote, Jesus expulsa do Templo comerciantes e cambistas. A
razão da atitude de Jesus, sentida como violenta pelos judeus, é dada pela evocação
de uma passagem do profeta Zacarias: “… Já não haverá mercadores no Templo do
Senhor dos exércitos” (Zc 14,21) e pela recordação dos discípulos que encontram
no Sl 69,10 uma justificativa pelo que Jesus fez. A pergunta dos judeus a Jesus
é pelo significado do gesto. Ao que Jesus responde, em primeiro lugar, numa
profecia ex eventu, de que o Templo construído por mãos humanas será destruído
e passará, e, em segundo lugar, revela um novo lugar da habitação de Deus.
Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita; onde Ele é encontrado
e se deixa encontrar. Ele é que será destruído, na morte violenta numa cruz,
mas reerguido pelo poder de Deus, com sua gloriosa ressurreição. O anúncio da
destruição do Templo de Jerusalém é anúncio, igualmente, da abolição dos
sacrifícios antigos, pois eles não podiam salvar os homens de seus pecados;
somente o Cristo que ofereceu o sacrifício de sua vida de uma vez por todas e
entrou no santuário eterno é que salva toda a humanidade (cf. Hb 9,1-14;
10,11-18).
Carlos Alberto Contieri, sj
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