sábado, 25 de maio de 2013

Através de Jesus Deus se revela na sua plenitude




É a primeira festa litúrgica na retomada do tempo comum. O termo “Trindade” não parece nem no Antigo nem no Novo Testamento. Para a tradição bíblica, o que Deus é, Uno e Trino, é dito narrativamente, isto é, na longa história da revelação de Deus ao seu povo. É na história, com suas vicissitudes, e, sobretudo, na história de Jesus Cristo, que Deus se revela como Pai, Filho e Espírito Santo.


O que Deus é desde toda eternidade, o que ele é desde o início, só pôde ser compreendido à luz da Ressurreição do Cristo e da efusão do Espírito Santo. O último na ordem da compreensão é o primeiro na ordem do ser, diz o axioma filosófico.



Os quatro evangelhos, cada um a seu modo, apresentam a dificuldade dos discípulos de compreenderem os gestos e palavras de Jesus e de fazerem a experiência de que em Jesus e por ele é que se chega à verdade plena, isto é, ao que Deus é, pois é ele quem descortina o mistério de Deus. O Espírito Santo continua a missão de Jesus: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (v. 13). A luz dada como dom do Ressuscitado permitirá compreender o que não era possível até então: “Tenho muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora” (v. 12; ver também: Lc 24,25-26).



Nesse contexto de João, o Espírito Santo é apresentado como um hermeneuta: “vos guiará em toda a verdade” (v. 13), “dirá tudo quanto tiver ouvido” (v. 13). O Espírito não fala por conta própria, pois ele é um com o Pai e o Filho; vivem numa profunda comunhão.



O Espírito Santo anuncia o que há de vir (cf. v. 13). O futuro do discípulo é a sua participação, não obstante a perseguição e a morte, na vitória de Cristo sobre o mal e a morte (1Cor 15). É nessa esperança que a comunidade de fé é chamada a viver, pois “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5).



Carlos Alberto Contieri, sj




sábado, 18 de maio de 2013

A solenidade de Pentecostes encerra o Tempo da Páscoa




Inaugura-se na história da humanidade um novo tempo, o Tempo do Espírito, ou o Tempo da Igreja. Trata-se de um espaço aberto pra o testemunho dos discípulos: “… permanecei em Jerusalém até receberdes a força do alto, o Espírito Santo, na Judeia, na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8).

O adjetivo ordinal “pentecostes” designa o último dia de uma série de cinquenta dias. O pentecostes não coincide com a festa judia de Pentecostes (cf. At 2,1). A festa judia passou por uma evolução: de uma festa agrícola (Ex 12,15-17; Ex 34,22; Dt 16,10), ela passou, no período pós-exílico, a ser a festa comemorativa da Aliança no Sinai (ver: Ex 19,1).

Todo relato da descida do Espírito Santo em At 2,1-11 possui os elementos da teofania do Sinai: barulho ensurdecedor e fogo (ver Ex 19,16). São elementos da manifestação de Deus. O barulho enche toda a casa, como o Espírito Santo, a todos eles (cf. vv. 2.4). E, depois de um fenômeno sonoro, um fenômeno visual: “... línguas como de fogo” (v. 3). Que são essas “línguas de fogo”? 

Simbolizam o poder de Deus que faz falar. Faz falar o quê? As maravilhas de Deus (cf. v. 11). Não se trata de falar línguas incompreensíveis. O dom do Espírito Santo faz com que a Igreja assuma a cultura, a língua de cada povo, para poder chegar a cada pessoa as maravilhas de Deus, isto é, o que Deus fez por nós e para nós em Jesus Cristo.

A solenidade de Pentecostes funda a universalidade da missão da Igreja. Mas há continuidade entre o pentecostes judeu e o cristão: o dom do Espírito é o dom da Lei interiorizada, quando, da Nova Aliança, surgem o espírito novo e o coração novo de que falam os profetas Jeremias e Ezequiel (Jr 30,23; Ez 36,26-27).

Carlos Alberto Contieri,sj

.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A ascensão do Senhor



É a ascensão do Senhor que lhes permite afirmar que ele, por sua ressurreição, está junto do Pai, sentado à sua direita. Tanto no Evangelho de Lucas como nos Atos dos Apóstolos, que é a segunda parte da obra lucana, o relato da Ascensão é precedido da promessa do envio do Espírito Santo e da missão confiada aos discípulos de serem testemunhas de Jesus Cristo (Lc 24,47-49; At 1,8).

Se o Evangelho dá uma breve notícia, dizendo simplesmente que “afastou-se deles e foi levado ao céu” (Lc 24,51), os Atos dedicam um espaço maior à ascensão (At 1,9-11).

O Cristo Ressuscitado continua a ter palavra e a ensinar os apóstolos, mas não de viva voz, e sim pelo Espírito Santo, que faz na comunidade dos discípulos a memória de Jesus, atualiza e esclarece suas palavras e move ao testemunho. Pela ação do Espírito, a presença do Senhor podia e pode ser sentida e reconhecida em todos os âmbitos da vida. É no cotidiano da existência humana que o Senhor se deixa encantar. A sua “elevação” é sentida em todos os lugares e em todo tempo.

Os três versículos que narram a ascensão nos Atos têm por finalidade instruir os discípulos. Em primeiro lugar, a ascensão é uma profissão de fé: tendo ressuscitado dos mortos, Jesus Cristo foi elevado ao céu. Nesse sentido, o relato não se oferece ao exercício ótico nem deve aguçar a imaginação, perguntando-se como se deu esta elevação. A imagem apresentada é ajuda para a intelecção da fé.

Em segundo lugar, o relato da ascensão visa responder à pergunta pelo onde e como encontrar o Ressuscitado elevado ao céu. O verbo “elevar” no passivo – “foi elevado” (v. 9.11), chamado de passivo divino, indica que foi Deus, o Pai, quem o elevou. “Uma nuvem o envolveu” (v. 9). A nuvem é, na tradição bíblica, símbolo da presença de Deus (ver: Ex 13,22). Jesus entra no mistério de Deus; no que é seu, antes da criação do mundo.

Os dois mensageiros celestes auxiliam na compreensão do mistério: “Esse Jesus que vocês viram ser elevado ao céu, virá, assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (v. 11). Agora, não depois, o modo da presença de Jesus Ressuscitado é envolto no mistério. Ele se oferece para o reconhecimento na nossa própria humanidade e nas vicissitudes do tempo e da história: “Por que ficais parados, olhando pra o céu?” (v. 11). Neste novo tempo é a fé que permite ver.

Na fé a “elevação” de Jesus não é sentida como ausência, mas como uma forma de presença. O fruto desta presença é a alegria: “Em seguida olharam para Jerusalém, com grande alegria” (Lc 24,52).


Carlos Alberto Contieri, sj

.

domingo, 5 de maio de 2013

O Espírito Santo faz em nós a memória de Jesus




O amor não é uma ideia, nem são palavras. Para Santo Inácio de Loyola, “o amor se põe mais em gestos que em palavras”.

É importante ter presente que na vida cristã o primeiro é o amor ou, melhor ainda, aceitar que se é amado por Deus, pois “Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Amar Jesus é acolher e pôr em prática sua palavra (cf. v. 21.23.24).

O “mundo” a que se refere Judas (v. 22) é, aqui, tudo o que se opõe ao projeto salvífico de Deus. É símbolo de fechamento ao Deus revelado em Jesus.

Assim, o “mundo” não é capaz de reconhecer a manifestação de Deus em Jesus em razão do fechamento, da recusa de escutar o Senhor e de pôr em prática suas palavras.

O outro consolador ou defensor, que dará continuidade à obra do primeiro consolador, Jesus Cristo, é o Espírito Santo. O Espírito Santo tem, aqui, uma missão de hermeneuta, de intérprete: “... ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (v. 26). O Espírito Santo faz em nós a memória de Jesus.

Carlos Alberto Contieri, sj