sábado, 30 de maio de 2015
Pela fé entramos no mistério de Deus
A revelação da Santíssima Trindade nos permite tomar
consciência de que Deus é uma comunhão de três pessoas: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. O termo “trindade” não aparece no Novo Testamento. O termo é
fruto da abstração própria da teologia que busca compreender o conteúdo próprio
da fé cristã. O que Deus é, ele nos deu a conhecer ao longo de toda a história
vivida como o lugar da manifestação do seu plano de salvação. O conhecimento de
Deus só é possível através da revelação, só é possível se Deus se mostra. Para
a tradição bíblica, o que Deus é só pode ser dito narrativamente, isto é, na
longa história de sua revelação ao seu povo até chegar à plenitude dos tempos
em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, nascido de uma mulher (Gl 4,4).
Em toda a história Deus se revelou como um Deus próximo, que caminha, orienta e
conduz o seu povo. Na plenitude dos tempos Deus armou a sua tenda no meio de
nós (Jo 1,14). Essa peregrinação de Deus na história da humanidade foi
revelando pouco a pouco o seu rosto. Mas, na plenitude dos tempos, pela
encarnação do Verbo eterno de Deus em Jesus de Nazaré, nós pudemos conhecer
Deus sem sombra, sem véu (Mc 15,38), pois Jesus Cristo é a imagem do Deus
invisível (Cl 1,15); estando diante dele, estamos diante de Deus mesmo (Jo
14,9-10). O que Deus é desde toda a eternidade só pôde ser conhecido a partir
da ressurreição de Jesus Cristo e com a graça do Espírito Santo. O que era
desde toda a eternidade nós só chegamos a compreender depois: o último na ordem
da compreensão é o primeiro na ordem do ser. Deus é amor (1Jo 4,8). A criação,
a encarnação do Verbo de Deus, a redenção, tudo é fruto do amor de Deus pela
humanidade. Um amor que não condena nem exclui quem quer que seja, mas que a
todos, indistintamente, oferece a sua salvação. Cada um dos evangelhos, cada
qual a seu modo, apresenta a dificuldade dos discípulos de entrar no mistério
de Deus revelado em Jesus
Cristo. Essa dificuldade continua
a ser nossa contemporânea. O que Deus é não se pode conhecer simplesmente por
um esforço racional. A experiência própria da fé é que permite entrar nos
umbrais do mistério de Deus. O Espírito Santo não realiza uma nova revelação,
mas retoma as palavras de Jesus para que possamos compreendê-las, colocando-as
no mais íntimo do coração humano para sermos testemunhas do amor de Deus entre
todas as pessoas.
Pe. Carlos Alberto Contieri, sj
FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 23 de maio de 2015
O Espírito Santo é o dom de Deus oferecido a nós
Com a solenidade de Pentecostes
encerra-se o tempo da Páscoa. A promessa da vinda do Espírito Santo feita por
Jesus aos seus discípulos se realiza (cf. At 1,8). Elevado à glória celeste, o
Senhor nos enviou, da parte do Pai, o Espírito que o conduziu ao longo de toda
a sua vida para que sejamos iluminados pelo Espírito Santo, que é o dom de Deus
oferecido a nós para o testemunho. O dom do Espírito é o dom dos tempos
escatológicos, o dom definitivo de Deus como cumprimento de toda a sua
promessa. Hoje, Deus derramou o seu espírito sobre “toda carne” (cf. Jl 3,1-5).
A humanidade inteira é destinatária desse poder que vem do alto. O Espírito é
dado para fazer compreender e viver a palavra de Jesus Cristo. O Espírito Santo
é uma realidade interior que nos ultrapassa infinitamente (cf. Jo 3,8). Ele
enche toda a terra. A festa cristã de Pentecostes coincide com a festa judia de
Pentecostes (cf. At 1,1). De uma festa agrícola (Ex 12,15-17; Ex 34,22; Dt
16,10), o pentecostes judeu passou, no período pós-exílico, a ser a festa
comemorativa da renovação da Aliança do Sinai (Ex 19,1). O adjetivo ordinal
“pentecostes” indica o último dia de uma série de cinquenta dias. Essa
coincidência intencional das duas tradições tem por finalidade fazer
compreender que o Espírito Santo é a lei interna da caridade. Todo o relato dos
Atos dos Apóstolos precisa ser bem compreendido para que o sentido do texto não
seja desvirtuado nem a mensagem do texto prisioneira de certas concepções equivocadas.
O relato possui elementos claríssimos da teofania do Sinai: barulho
ensurdecedor, fogo, espanto (cf. Ex 19,16). São elementos que, na cultura
bíblica de determinada época, indicam a presença do próprio Deus. O barulho
enche toda a casa, do mesmo modo que o Espírito Santo enche todos os que nela
estão. Depois de um elemento sonoro, tem-se um elemento visual: “como que
línguas de fogo”. Essas línguas de fogo simbolizam o poder de Deus que faz
falar. O Espírito Santo é o poder de Deus que faz falar as maravilhas de Deus,
sobretudo, o que Deus fez por toda a humanidade mediante seu Filho Jesus
Cristo. Não se trata, aqui, de glossolalia, mas de um modo de afirmar a
universalidade da missão da Igreja: o dom do Espírito impulsiona a Igreja a
assumir cada cultura, a língua de cada povo, para poder fazer chegar a toda
pessoa a graça do amor de Deus manifestada no Senhor Jesus Cristo. A linguagem
do Espírito não é uma linguagem ordinária, pois ele comunica a realidade íntima
de Deus, a verdade da vida espiritual. A ação interior do Espírito Santo é
essencial para viver a fé, a esperança e a caridade. O Espírito Santo é o que
faz com que a mensagem e a obra de Cristo entrem no mais profundo do coração,
onde ele introduz o mistério pascal.
Pe. Carlos Alberto Contieri
FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 16 de maio de 2015
Anunciai a Boa-Nova a toda criatura!
A solenidade da Ascensão, celebrada quarenta dias depois da Páscoa, conclui a série de aparições de Jesus ressuscitado. Na oração da coleta desse dia, rezamos: “Ó Deus, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória”. Celebramos a vitória de Jesus Cristo sobre o mal e todas as suas manifestações e sobre a morte. Dessa vitória todos somos herdeiros, pelos méritos de Cristo. Essa vitória de Cristo nos faz compreender que o mal e a morte não têm mais poder, eles foram vencidos pelo Senhor ressuscitado dentre os mortos. O trecho dos Atos dos Apóstolos, de hoje, é de capital importância para compreender a mensagem da ascensão do Senhor. Ao longo de quarenta dias, depois da ressurreição, o Senhor apareceu aos discípulos e os instruiu pelo Espírito Santo. O Senhor continua presente e a falar com os seus, mas agora não de viva voz e em carne e osso, podemos dizer, mas pelo Espírito Santo (cf. At 1,2). O Espírito Santo torna o Cristo presente aos seus discípulos e atual as suas palavras. Agora, é através do Espírito Santo que o Senhor continua a revelar o desígnio salvífico de Deus. O relato da ascensão não se oferece ao nosso olhar; trata-se de uma profissão de fé: ressuscitado dos mortos, Jesus Cristo foi elevado ao céu onde está sentado à direita do Pai. O
relato tem por finalidade ser um apoio para a intelecção da fé e o aprofundamento do mistério da ressurreição. O passivo divino usado para dizer da elevação de Jesus indica que é o Pai quem o elevou. A nuvem que envolve o Ressuscitado é, para a tradição bíblica, símbolo da presença de Deus que acompanha o seu povo (cf. Ex 13,22). A nuvem que envolve o Senhor é um modo de dizer que Jesus ressuscitado entra no mistério de Deus, no que é seu, antes da criação do mundo. Os dois mensageiros celestes são um apoio para compreender que, agora, com seu corpo glorioso, o Senhor não é encontrado no alto, mas na nossa própria humanidade, em todos os lugares e situações, no cotidiano da existência humana. É pela fé que vemos e encontramos o Senhor, em meio às vicissitudes da história. Pela fé a elevação de Jesus Cristo não é sentida como ausência, mas como uma forma de presença. A ascensão é, para nós cristãos, o momento a partir do qual, ao invés de ficar olhando o céu, devemos cumprir a missão que o Senhor ressuscitado nos confiou, a saber, a de sermos testemunhas
do seu amor (cf. At 1,8). Na conclusão do evangelho de Marcos, depois de confiar aos discípulos a missão de expandir o evangelho por toda a terra, Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Mas essa missão tão grande não pode ser realizada a não ser com a força que Deus mesmo concede (cf. Mc 16,20).
relato tem por finalidade ser um apoio para a intelecção da fé e o aprofundamento do mistério da ressurreição. O passivo divino usado para dizer da elevação de Jesus indica que é o Pai quem o elevou. A nuvem que envolve o Ressuscitado é, para a tradição bíblica, símbolo da presença de Deus que acompanha o seu povo (cf. Ex 13,22). A nuvem que envolve o Senhor é um modo de dizer que Jesus ressuscitado entra no mistério de Deus, no que é seu, antes da criação do mundo. Os dois mensageiros celestes são um apoio para compreender que, agora, com seu corpo glorioso, o Senhor não é encontrado no alto, mas na nossa própria humanidade, em todos os lugares e situações, no cotidiano da existência humana. É pela fé que vemos e encontramos o Senhor, em meio às vicissitudes da história. Pela fé a elevação de Jesus Cristo não é sentida como ausência, mas como uma forma de presença. A ascensão é, para nós cristãos, o momento a partir do qual, ao invés de ficar olhando o céu, devemos cumprir a missão que o Senhor ressuscitado nos confiou, a saber, a de sermos testemunhas
do seu amor (cf. At 1,8). Na conclusão do evangelho de Marcos, depois de confiar aos discípulos a missão de expandir o evangelho por toda a terra, Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Mas essa missão tão grande não pode ser realizada a não ser com a força que Deus mesmo concede (cf. Mc 16,20).
Pe. Carlos Alberto Contier
.FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
.FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 9 de maio de 2015
O amor de Deus e o Deus que é amor
A
liturgia da palavra deste domingo fala do amor de Deus e do Deus que é amor.
Nós atingimos, aqui, o âmago da revelação do Novo Testamento. A fonte do amor é
o Pai, mas para chegar até nós ele passa pelo Filho que se encarnou para a
nossa salvação. Através de Jesus temos acesso ao amor do Pai que nos amou
primeiro (cf. 1Jo 4,10). A alegoria da videira (15,1-8) tem sua explicação nos
versículos seguintes, que são, grosso modo, uma meditação sobre o amor
fraterno. O amor é o fruto esperado de quem permanece unido à videira
verdadeira. A fonte do amor é o Pai. Com o mesmo amor com que o Pai ama o
Filho, Jesus ama os seus discípulos (cf. Jo 13,1). O Pai ama criando o
universo, gerando o Filho desde toda eternidade, entregando-o à morte para que
o mundo fosse salvo por ele (cf. Jo 3,16). A fonte da alegria dos discípulos
está em se deixar in-habitar por esse dinamismo do amor divino. “Mandamento”, aqui,
deve ser entendido como o conjunto dos ensinamentos de Jesus, expressos nas
suas palavras e nos seus gestos. O amor a Jesus tem uma exigência prática: é
imitando o Senhor e vivendo os seus ensinamentos que o discípulo é in-habitado
por seu amor. O amor engaja a pessoa num compromisso e comunhão profundos com
quem é amado. O amor assim vivido é o caminho da verdadeira felicidade. Aliás,
não há forma de viver o amor que não suponha a entrega de si mesmo. Os
versículos 12 a 17 são enquadrados pelo tema principal dessa parte do discurso:
o amor fraterno. Na origem do amor do Filho pelos discípulos está o amor de
Deus pelo Filho. O Filho é portador do amor do Pai e, pela sua vida, inclusive
a sua vida entregue, ele o manifesta a todo o mundo. O amor é exigência e
condição de uma vida cristã autêntica, sem hipocrisias. A medida do amor
fraterno é a medida do amor de Jesus pelos seus discípulos. No seu amor pelos
seus, ele deu a sua própria vida (cf. Jo 13,1). Os “amigos”de Jesus são, além
dos discípulos, os leitores do evangelho, nós todos, por quem o Senhor
entregou a sua vida e revelou a verdadeira face do Pai. Os relatos de vocação
do Doze, nos quatro evangelhos, mostram que a iniciativa do chamado é Jesus (v.
16; cf. Mc 1,16-20; 3,13-19; Jo 6,70). Para poder produzir fruto do amor
fraterno, os que são escolhidos devem partir, aceitar serem enviados pelo
Senhor para testemunhar o seu amor. Que o Senhor nos ajude a imitá-lo no amor
que ele tem por cada um e por todos nós!
Pe.
Carlos Alberto Contieri
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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