sexta-feira, 2 de setembro de 2011

HOMILIA DO 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM



                No domingo anterior vimos o tema do profeta, que é aquele proclamador da palavra de Deus, principalmente, no ministério de catequista. Hoje esse tema tem uma outra nuance: o profeta é o que anuncia, corrige e consola (cf. 1 Cor 14, 3). São Paulo aqui trata da profecia como dom carismático, mas se aplica também ao profetizarmos com a Palavra de Deus, que terá as mesmas funções.

                Na primeira leitura (Ez 33, 7-9) a profecia assume a função de correção. Ou seja, devemos ao proclamar a Palavra de Deus, corrigir aos erram. Isto também é consoante o conjunto das obras de misericórdia (ou de caridade) espiritual, uma das sete elecandas (as demais são: dar bons conselhos, suportar com paciência as fraquezas do próximo, consolar os tristes, rezar pelos vivos e pelos mortos, ensinar a verdade aos que a ignoram e perdoar as injúrias).

                Essa correção é necessária como obra de amor: com efeito, se você não corrigir o irmão (irmã) que erra, ele (ela) poderá se condenar e, você fica culpado. Isto aparece claramente na primeira leitura. Evidentemente, se é obra de caridade, de amor, essa realidade tem que estar presente na correção. Destarte, ao corrigirmos alguém, o façamos por e com amor. E essa qualificação aparece na segunda leitura (Rm 13, 8-10): São Paulo fala que não devemos estar devendo nada ao próximo, a não ser o amor mútuo, o qual inclui a correção fraterna, de irmão para irmão (irmã) na fé.

                No evangelho (Mt 18, 15-20) aparece também esse dever de corrigir ao próximo ressaltando a correção a quem nos ofendeu (certamente, correção com perdão ao ofensor). A atitude de perdão é destacada numa graduação de três fases: você e a pessoa, depois você com mais duas pessoas e o ofensor, finalmente você com a Igreja (a comunidade) e a pessoa a ser perdoada. O número três dessas fases de correção aponta para o simbolismo do mesmo: é o número ligado a Deus (SS. Trindade, o Deus três vezes Santo de Is 6). O que emerge disto é que o perdão é dom de Deus e devemos pedi-lo e exercitá-lo. O número real de conferimento do perdão é ilimitada (70 x7 no texto de Mt 18, 21-22).

                O ligar na terra que faz acontecer o ligar no céu, segundo a tradição da Igreja significa duas realidades: o poder que a Igreja terá de perdoar os pecados (o contexto é o do perdão) e o poder de definir a fé e a moral. Em termos pessoais o ligar e desligar, além do perdoar ao próximo, fundamenta, também à cura do coração de quem é ofendido: ao dar o perdão, ele desliga o ofensor do ressentimento guardado. E nesse aspecto, o que perdoa é mais beneficiado do que ao que é perdoado.

                E a oração ficará fortemente aberta a ser atendida por Deus (versículos 19 a 20), porque se você dá o perdão, Deus também lhe dá o que você está pedindo-lhe. Quem sabe as nossas orações pareçam não ser atendidas, por falta do perdão? Com efeito, o Sl 94 (95) empregado como salmo responsorial, nos conclama a ouvir a voz do Senhor Deus, no hoje de nossa vida. E ouvi-lo, com o coração aberto, será a condição de também ouvirmos ao nosso próximo, ao sermos corrigidos também.

                Em suma: ouvir a voz de Deus (estamos no mês de setembro, o mês da Bíblia), ouvir a voz do próximo ( que lhe pede o perdão ou lhe faz correção fraterna). Proclamar a voz de Deus (para a correção) além da edificação (com ensino) e da consolação. Tudo com amor verdadeiro, expressando que fazemos a correção por amor. Estar em clima de valorização da Palavra de Deus como fonte inspiradora do amor real e verdadeiro. 

Mons. José Geraldo Pinto de Souza

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