Pe. Carlos Alberto Contieri
sábado, 7 de março de 2015
Jesus é o lugar em que Deus habita
O decálogo que temos
na primeira leitura, no Pentateuco, vem depois dos relatos da criação e da
libertação do povo de Deus do Egito. Isso significa que o decálogo está a
serviço da vida e da liberdade, e é exatamente isso que o Decálogo visa colocar
na vida de quem o pratica. Com as nuances próprias a cada evangelista, o
episódio da purificação do Templo encontra-se também nos evangelhos sinóticos
(Mt 21,12-13; Mc 11,11.15-17; Lc 9,45-46). Era escandaloso o que acontecia no
Templo, de modo especial nas grandes festas judaicas e, sobretudo, na Páscoa.
Os sumos sacerdotes e toda a aristocracia ligada ao Templo se aproveitavam das
festas religiosas para intensificar o comércio e, consequentemente, o câmbio de
moedas. Aproveitavam-se da obrigatoriedade que todo judeu piedoso tinha de
oferecer sacrifícios e das longas distâncias que os peregrinos percorriam para
chegarem a Jerusalém, a fim de comercializarem todo tipo de animais prescritos
pela Lei para serem oferecidos em sacrifício. Além disso, a moeda para a compra
tinha de ser pura, isto é, não podia conter nenhuma efígie ou inscrição que
pudesse denotar idolatria. Daí a necessidade de os compradores terem de trocar
suas moedas pela moeda “pura” do Templo de Jerusalém, inclusive para fazerem as
ofertas voluntárias depositadas nos cofres (cf. Lc 21,1-4). A cena é dramática:
com um chicote, Jesus expulsa do Templo comerciantes e cambistas. A razão da
atitude de Jesus, sentida como violenta pelos judeus, é dada pela evocação de
uma passagem do Profeta Zacarias: “... Já não haverá mercadores no Templo do
Senhor dos exércitos” (Zc 14,21), e pela recordação dos discípulos que
encontram no Sl 69,10 uma justificativa para o que Jesus fez. A pergunta dos
judeus a Jesus é pelo significado do gesto. Ao que Jesus responde que o templo
construído por mãos humanas será destruído e passará, revelando um novo lugar
da habitação de Deus. Em Jesus aprouve a Deus habitar com a plenitude de sua
graça (cf. Jo 1,14). Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita;
onde Ele é encontrado e se deixa encontrar. Ele é que será destruído, na morte
violenta numa cruz, mas reerguido pelo poder de Deus, com sua gloriosa
ressurreição. O anúncio da destruição do Templo de Jerusalém é anúncio,
igualmente, da abolição dos sacrifícios antigos, pois eles não podiam salvar os
homens de seus pecados; somente o Cristo que ofereceu o sacrifício de sua vida
de uma vez por todas e entrou no santuário eterno é que salva a toda a
humanidade (cf. Hb 9,1-14; 10,11-18). Na morte de Cristo na cruz, o véu do
santuário se rasga de cima a baixo. Esse é o anúncio da destruição do Templo. O
verdadeiro santuário é o corpo de Jesus que foi destruído, mas Deus, no seu
imenso amor, transformou esse fato injusto em ocasião de vitória sobre o mal e
a morte.
Pe. Carlos Alberto Contieri
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