O livro do Gênesis é
o livro das origens: da criação, do mal e da fé no Deus único e verdadeiro. Na
primeira leitura, temos o relato do sacrifício de Abraão. Deus não pretende
tirar a vida de Isaac, como se pode notar no próprio relato – filho que Abraão
teve com Sara já na sua velhice –, mas testar e aprofundar a fé do Patriarca.
Para o Antigo Testamento, o sacrifício não é algo negativo, mas positivo,
porque une o homem a Deus. Pela sua confiança em Deus, Abraão estava disposto e
preparou tudo para oferecer o seu filho. Seu sacrifício e sua fé
constituíram-se numa fonte de bênçãos. A promessa de Deus de uma descendência
numerosa para Abraão é consequência de sua obediência a Deus. Na leitura cristã
do Antigo Testamento, o sacrifício de Isaac é figura do sacrifício de Jesus. O
relato da transfiguração do Senhor é a sequência do primeiro anúncio da paixão,
morte e ressurreição do Senhor (Mc 8,31-33) e da apresentação das exigências
para seguir Jesus (Mc 8,34-38). Os discípulos, entre outros, têm dificuldade de
aceitar a novidade do messianismo vivido por Jesus, um Messias que passa pelo
sofrimento e pela morte. Desde então, a glória de Jesus está ligada à sua
paixão e morte. O caminho do discípulo, no entanto, é o caminho do Mestre. A
transfiguração é uma prolepse do mistério pascal de Jesus Cristo. O passivo
divino “foi transfigurado” significa que o Pai é quem age em Jesus, revelando a
sua filiação divina. A observação de que as vestes ficaram brancas como nenhuma
lavadeira conseguiria fazê-lo é o modo bíblico de dizer que se trata de uma
revelação de Deus. O desconcerto de Pedro diante do mistério deve ser vencido
pela escuta do Filho bem amado de Deus. É preciso escutar Jesus, pois sua
mensagem descortina o mistério de Deus; é preciso escutar o Senhor, pois só ele
tem “palavras de vida eterna”. A transfiguração de Jesus nos ajuda a
compreender que aquele que vai sofrer a paixão e ser glorificado é o Filho de
Deus que se encarnou para a nossa salvação. O que sustenta nossa vocação
cristã, o que sustenta nossa fé é a graça da ressurreição do Senhor. O
sofrimento e a morte não são a última palavra. O Senhor, ressuscitado dos
mortos, venceu o mal e a morte; glorioso, nos faz participantes de sua vitória.
Este é o conteúdo da esperança cristã. É preciso manter os ouvidos abertos e o
olhar fixo no Senhor, que passou pelo sofrimento e pela morte, e ressuscitou. A
experiência dos efeitos de sua ressurreição conduz os discípulos, todos nós, a
vivermos a adesão à pessoa de Jesus Cristo no cotidiano de nossa vida.
Pe. Carlos Alberto Contieri
FONTE:
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Pe. Carlos Alberto Contieri