Carlos Alberto Contieri, sj
sábado, 9 de novembro de 2013
Deus é surpreendente
Agora, é a vez dos saduceus.
Eles não são propriamente um grupo religioso, mas uma espécie de aristocracia
ligada ao Templo de Jerusalém. Eles não acreditam na ressurreição dos mortos
(cf. v. 27; At 23,8), ao contrário dos fariseus. Considerando o modo como eles
apresentam o caso, a ressurreição na concepção deles é uma espécie de
prolongamento ou repetição da vida presente. O caso apresentado por eles é
absurdo e, provavelmente, com o intuito de ridicularizar a fé na ressurreição
(vv. 19-23). Para isso, recorrem à lei do levirato (= cunhado): “Se dois irmãos
viverem juntos e um deles morrer sem filhos, a viúva não sairá de casa para
casar-se com um estrangeiro; seu cunhado se casará com ela e cumprirá com ela
os deveres legais de cunhado; o primogênito que nascer continuará o nome do
irmão morto, e assim não se apagará o nome dele em Israel” (Dt 25,5-6). Na
resposta, Jesus revela a ignorância deles: interpretam mal a Escritura e
desconhecem o poder de Deus, supondo que a morte anularia o poder de Deus. Eles
pensavam, como dissemos, que a ressurreição fosse continuidade da vida terrena.
Engano! Deus é surpreendente. É preciso se abrir à novidade de Deus e nele
esperar: os que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da
ressurreição dos mortos não se casam; e já não poderão morrer” (vv. 35-36).
Pensaram poder falar da ressurreição prescindindo de Deus. Ora, sem a relação
ao Deus dos vivos, a própria Escritura é letra morta. Jesus faz remontar a
Moisés a crença na ressurreição: “Que os mortos ressuscitam, também foi
mostrado por Moisés, na passagem da sarça ardente, quando chama o Senhor de
‘Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó’” (v. 37).
A ressurreição não pode ser
pensada como pura e simples continuidade de nossa vida terrestre. Há uma ruptura
com nossa vida neste mundo: “Neste mundo, homens e mulheres casam-se”, mas no
mundo futuro e na ressurreição não se casam (v. 34.35). Os ressuscitados têm um
ponto em comum com os anjos: eles não podem mais morrer; logo, não necessitam
de descendência. Deus é o Deus dos vivos (cf. v. 38): “Ninguém de nós vive e
ninguém de nós morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que
vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos” (Rm 14,7-8).
Carlos Alberto Contieri, sj
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