A festa de
todos os santos e santas de Deus é uma festa antiga. Já no segundo século, a
Igreja celebrava a memória dos seus mártires para que, tendo presente o seu
testemunho, a comunidade se mantivesse fiel no testemunho de Jesus Cristo. É
uma festa para nós. A porta do céu se abre não para nos abstrairmos do mundo,
pois, aqui, é o lugar de vivermos a nossa vocação à santidade, mas para
considerarmos o compromisso próprio do nosso chamado a partir do céu,
inspirados pelo testemunho daqueles que nos precederam na fé. Em todos os
santos e santas de Deus se cumpre a Palavra do Senhor. À afirmação de Pedro:
“Olha, deixamos tudo e te seguimos!”, que recompensa terão? Jesus responde:
“Nessa vida perseguições e tribulações. Mas, depois, a vida eterna” (Mc
10,28-30).
As bem-aventuranças fazem parte do longo discurso
denominado sermão da montanha (Mt 5–7); fazem parte de um gênero literário
bastante atestado no Antigo Testamento. A primeira bem-aventurança é o
fundamento de todas as demais: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o
Reino dos céus” (v. 3).
Há um espírito dentro do ser humano; ele o
recebeu de Deus, que o chamou à existência (cf. Gn 2,7). A pobreza de espírito
é uma pobreza em relação a Deus: diante de Deus o ser humano se encontra
“desnudo”. Viver essa realidade de maneira concreta é assumi-la com um coração
puro, experimentá-la no mais profundo do ser, lá onde aflora a presença de
Deus. Nesse sentido, as bem-aventuranças são um apelo ao discípulo a viver a
vida referida a Deus e na confiança nele, num compromisso efetivo com o Reino
de Deus e na esperança de que a recompensa vem do alto. O que cada
bem-aventurança promete, a realidade escatológica, é o fundamento da vida
moral, do modo de agir do cristão.
O livro do Apocalipse foi escrito com a finalidade
de encorajar os cristãos a que, mesmo na perseguição implacável, guardassem a
palavra de Cristo, não renunciassem à fé e aos valores da vida cristã. Ele tira
para a vida dos cristãos as consequências do mistério pascal do Senhor. O que
encoraja a Igreja peregrina é considerar a Igreja triunfante. A multidão
numerosa vestida de branco são os que por Cristo deram as suas vidas e no
Cristo participam da sua gloriosa ressurreição. São os que confiaram plenamente
no Senhor: “Todo o que espera nele purifica-se, como também ele é puro” (1Jo
3,3).
É preciso, por fim, dizer que o que nos faz santos
é a presença de Deus em nós. Acolher esta presença, deixar-se conduzir por ela,
é o caminho da santidade.
Carlos Alberto
Contieri, sj
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário