sábado, 13 de julho de 2013
E quem é o meu próximo”
O texto do evangelho deste domingo é próprio a Lucas e pode ser
dividido em dois episódios: a) questão sobre a vida eterna (vv. 25-28); b)
questão sobre o próximo e como proceder em caso de conflito entre dois
mandamentos da Lei (vv. 29-37).
Os dois estão estreitamente relacionados pela
observação do narrador: “… e, querendo experimentar Jesus…” e a pergunta do
legista: “E quem é o meu próximo” (v. 29). A perícope tem um tom de
controvérsia: “Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou...”
(v. 25).
A resposta de Jesus com uma pergunta faz com que o
doutor da Lei responda citando os mandamentos fundamentais da Lei mosaica (cf.
Dt 6,4-9; Lv 19,18). A apresentação unitária destes mandamentos é uma leitura
da Lei: “Que está escrito na Lei? Como lês (= interpreta)?” (v. 26). Segundo
Lucas, Jesus encontra nas próprias palavras da Escritura o conselho, o
mandamento fundamental para a vida do cristão: “Faze isso e viverás” (v. 28),
isto é, ajudando dessa maneira poderás herdar a vida eterna. O amor é o caminho
para herdar a vida eterna.
Motivado pela pergunta do legista, Jesus conta a
parábola do “bom samaritano” (vv. 30-37). Tal parábola é uma discussão
haláquica (precisa e legal) acerca do conflito entre a Lei da pureza (Lv
21,1-3; 22,3-7) e o amor ao próximo (Lv 19,18). Numa situação como a que a
parábola nos apresenta, qual dos dois mandamentos tem precedência sobre o
outro? Se a resposta, hoje, é evidente para nós cristãos, não o era,
certamente, para os contemporâneos de Jesus.
Sem podermos nos delongar, estudando cada um dos
personagens da parábola, passemos à resposta: se o ouvinte e/ou leitor julga
que o sacerdote, mesmo obrigado pela Lei da pureza, deveria ter ajudado o
moribundo, pois neste caso o mandamento do amor ao próximo tem precedência
sobre a Lei de pureza, a consequência não é que as leis de pureza são inválidas
ou podem ser ignoradas, mas que a Lei do amor ao próximo é o mandamento-chave
que precisa ser escolhido entre qualquer outro mandamento, em caso de conflito.
O amor ao próximo é uma exigência primordial da Torá. A presença do samaritano
na parábola confirma que a questão é a da correta obediência à Lei de Moisés. O
samaritano, não aceito pelos judeus, conhece a mesma Torá que o judeu, e está
obrigado a obedecer todos os mandamentos. Ajudando o homem quase morto, ele
está obedecendo ao mandamento. Sua compaixão não é uma alternativa ao
legalismo; ela é o que o mandamento do amor ao próximo exige dele.
Ele ilustra o que significa obedecer a este mandamento, nesta
situação concreta. Quem cumpre o mandamento do amor cumpre a Lei plenamente.
Carlos Alberto Contieri, sj
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