Carlos Alberto Contieri, sj
sábado, 8 de junho de 2013
O Senhor encheu-se de compaixão
O relato do evangelho é próprio a Lucas. Inspira-se em 1Rs
17,8-24, no episódio do filho de uma viúva, em Sarepta.
Jesus vai para Naim, pequeno vilarejo entre Cafarnaum e a
Samaria. É acompanhado de seus discípulos e grande multidão (v. 11). Às portas
da cidade, Jesus e seus discípulos se encontram com outro grupo: “... levavam
um morto para enterrar, um filho único, cuja mãe era viúva. Uma grande multidão
da cidade a acompanhava” (v. 12). O paralelo é evidente: os dois grupos
caminham em direções opostas; o primeiro segue um homem poderoso em gestos e
palavras, o segundo grupo, um morto. Até este ponto a descrição da cena e dos
personagens é puramente objetiva. De repente somos surpreendidos por uma
focalização interna, a menção da compaixão de Jesus: “Ao vê-la, o Senhor
encheu-se de compaixão por ela e disse: ‘Não chores!’” (v. 13). A iniciativa de
Jesus é provocada pela sua compaixão. A palavra de Jesus permite entrar no
coração das pessoas. É por Jesus que somos informados do sofrimento da mulher:
“Não chores” (v. 13), e da idade do morto: um “jovem” (v. 14). Não é da morte
que Jesus tem compaixão, nem do morto, mas da pessoa que sofre. O acento de
todo o episódio é posto em Jesus, sobre sua compaixão e sua palavra poderosa.
Nomeando Jesus como senhor no versículo 13, o narrador nos informa que se trata
do Senhor da vida que se dirige à viúva.
Nesta passagem não é a morte nem o morto que importam, nem mesmo
o retorno à vida, mas que uma mãe já viúva tenha perdido o seu filho único. O
retorno à vida não é o objetivo da iniciativa de Jesus, mas a consolação da mãe
que chora. A ação de Jesus termina com uma observação: “E Jesus o entregou à
sua mãe” (v. 15b). O texto apresenta uma transformação que se dá não somente
pelo retorno de um jovem à vida, mas das duas multidões que, primeiramente
separadas, são reunidas, num segundo momento, no louvor a Deus.
A passagem de Jesus por
Naim possibilita um duplo reconhecimento, a saber: da identidade de Jesus
(Profeta) e da visita salvífica de Deus (cf. v. 16).
Lucas situou o episódio do filho da viúva de Naim antes do da
mulher pecadora (7,36-50). A razão: ele quer ir da morte física à espiritual,
da ressurreição física à espiritual. Procedimento semelhante ele utilizará com
relação aos dois tipos de cegueira (18,35-43; 19,1-10).
Carlos Alberto Contieri, sj
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