sábado, 19 de janeiro de 2013
O princípio dos "sinais" de Jesus
O capítulo 62 do profeta Isaías faz parte do que se convencionou
chamar, na exegese, trito-Isaías. Escrito no período pós-exílico, o texto
apresenta a cidade como esposa, depositária de uma promessa de salvação. O
evangelho de João deste domingo está situado na parte do quarto evangelho
denominada "livro dos sinais". O nosso relato é, no dizer do
narrador, o "princípio" dos sinais (v. 11), o que nos leva a
compreender que o sinal de Caná é um evento fundador. Trata-se de uma narração simbólica:
ela torna presente algo diferente do que é imediatamente dito e que lhe serve
de expressão. Aqui, o símbolo é mais importante que a materialidade dos fatos.
O tema geral é o cumprimento por Jesus da promessa do Antigo Testamento de
abundância de vinho nos tempos messiânicos (Gn 49,10-11; Am 9,13-14). Jesus e
seus discípulos são convidados para uma festa de casamento. A mãe de Jesus
também estava lá. Falar de festa de bodas é evocar não só a Aliança passada
(Noé, Abraão, Moisés), mas a nova, em Jesus, de cuja plenitude todos receberam
graça no lugar de graça (cf. Jo 1,16). A festa humana das bodas serve na
tradição bíblica de metáfora para a Aliança de Deus com o seu povo (Os 2,18-21;
Ez 16,8; Is 62,3-5). O vinho é dom de Deus para a alegria das pessoas, e sinal
de prosperidade (Sl 104[103],15; cf. Jz 9,13; Eclo 31,27-28; Zc 10,7). É por
essa razão que ele será abundante nas "bodas escatológicas" (Am 9,13;
Is 25,6). Em Caná, o vinho oferecido por Jesus é superior ao vinho servido
primeiro. Graças à ação de Jesus, a Aliança atinge a perfeição. Por trás das
palavras da mãe de Jesus está Israel, que confia na intervenção divina, espera
e vê a promessa de salvação realizada. O termo "mulher" evoca Sião,
representada na Bíblia com traços de uma mulher, de uma mãe (Is 49,20-22; 54,1;
66,7-11; Jo 16,21). Como em nosso relato a noiva não aparece, é a mãe de Jesus
que representa Sião, cujo esposo é Deus. Em razão de sua cor, o vinho era tido
como o sangue da vinha. Daí ele ter se tornado, como o sangue, símbolo da vida.
"Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância", diz o
Senhor (Jo 10,10). A nós, a tarefa de distribuir este vinho da alegria e de
oferecer esta vida que é dom.
Carlos Alberto Contieri, sj
FONTE: http://www.paulinas.org.br
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