domingo, 21 de outubro de 2012
O mais importante é o que serve
Encontramos em cada
um dos três evangelhos sinóticos (Mt,
Mc, Lc) três "anúncios
da Paixão", nos quais Jesus adverte seus discípulos sobre as provações que
ele pressente que sobrevirão em Jerusalém, para onde se dirigem. Em sequência aos segundo e
terceiro anúncios, os evangelistas Mateus e Marcos narram a aspiração dos
discípulos por usufruírem o poder. Estes evangelistas fazem, assim, um
contraste entre o projeto libertador de Jesus, vulnerável à repressão dos
poderosos, e a incompreensão desses discípulos apegados à mentalidade de
disputa e conquista do poder. O episódio narrado no evangelho de hoje vem em
seguida ao terceiro anúncio da Paixão. Jesus e os discípulos estão se dirigindo
a Jerusalém e o ministério de Jesus se aproxima do fim. Depois de cerca de três
anos de convívio (outono de 27 à primavera de 30), os discípulos ainda
manifestam incompreensão em relação à novidade de Jesus. É João, um dos
discípulos mais próximos de Jesus, e seu irmão, Tiago, que manifestam suas aspirações
em estarem à direita e à esquerda de Jesus, imaginando que ele assumiria o
poder (a "glória") em Jerusalém. Porém, quando Jesus é suspenso na
cruz, são dois marginalizados que estão à sua direita e à sua esquerda, em duas
cruzes.
Diante das pretensiosas e equivocadas reivindicações dos discípulos e das
contendas entre eles, Jesus faz uma crítica do exercício do poder neste mundo.
Rejeitando, de maneira generalizada, o abuso de poder dos chefes das nações e
de seus grandes, Jesus reafirma a novidade do Reino. Enquanto a sociedade é
dividida entre poderosos opressores e oprimidos explorados, Jesus propõe a
conquista da unidade a partir da humildade e do serviço, resgatando-se a vida
dos mais excluídos e marginalizados.
Na visão judaico-deuteronômica, é pelo castigo e
sacrifício que se purificam os pecados. O profeta Isaías (Segundo Isaías)
apresenta o povo exilado na Babilônia sob a imagem do "Servo de
Javé", que por seu sofrimento seria justificado e glorificado com o poder,
conforme o "projeto do Senhor" (primeira leitura). Sob esta mesma
visão, o sofrimento final de Jesus foi também assim interpretado. A carta aos
Hebreus (segunda leitura), a partir da imagem dos sacerdotes que ofereciam os
sacrifícios no Templo de Jerusalém, atribui a Jesus ressuscitado o caráter de
"eminente sumo sacerdote que atravessou os céus"; esta eminência está
no fato de que "Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem
mancha" (Hb 9,14), ao mesmo
tempo como sacerdote e vítima. Louvar a cruz de Jesus como instrumento
meritório de salvação da humanidade é conseqüência da
doutrina sacrifical do Antigo Testamento. Esta compreensão não corresponde à
realidade do Deus de amor, que tudo cria pelo amor e a todos comunica sua vida
divina e eterna pelo amor carinhoso, paterno e materno.
Na encarnação, Deus nos deu seu Filho, Jesus. E o próprio Jesus dedicou sua
vida, convivendo com os discípulos e as multidões, para a libertação e o
resgate da vida de todos, neste mundo. A vida de Jesus é um testemunho do amor
que tudo transforma e gera a vida que permanece para sempre.
José Raimundo Oliva
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