domingo, 2 de setembro de 2012
É do coraçao que saem as coisas boas
Jesus
está diante de "inquisidores" enviados pelos chefes religiosos de
Jerusalém à Galileia. Sua função é espiar Jesus e preparar o arquivo para a
condenação. Todas as faltas devem ser anotadas. Então o questionam porque
percebem que alguns discípulos seus comem com as mãos impuras. Estão
infringindo a tradição dos antigos. Está em foco a questão da
"tradição", que é mencionada seis vezes no texto.
No
caso atual estão sendo feridos os códigos de pureza, que eram um dos elementos
fundamentais para definir a identidade étnica e nacionalista do povo, dentro da
reivindicada característica de superioridade da eleição por Deus. Jesus remove
estes princípios exclusivistas afirmando o essencial para Deus: a vida e o amor
para todos.
Com
a citação do profeta Isaías, "é inútil o culto que me prestam, as
doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos" (Is 29,13...),
Jesus questiona como o apego à tradição humana leva a abandonar o principal, o
amor ao próximo, que é o mandamento de Deus.
Eram muitas "as leis e os decretos" a serem observados. Eles eram
apresentados como o traço característico da superioridade do povo de Israel em
relação aos outros povos (primeira leitura). Estas leis e decretos,
apresentados como "Lei de Moisés", eram resultado de acréscimos sucessivos,
ao longo do tempo, a partir do núcleo do Decálogo. Prevalecia neste conjunto de
leis, criadas pelas elites religiosas do Templo de Jerusalém, a mera tradição
humana que até chegava a opor-se ao verdadeiro projeto de Deus. Com sua
ideologia estas leis geravam a humilhação e a submissão que abriam as portas
para a exploração do povo fiel.
Com uma inversão, Jesus revela que a impureza é, na realidade, o apego à
materialidade do culto, relegando a segundo plano, ou omitindo-se, os gestos
concretos de amor ao próximo, aos mais carentes e necessitados. "A
religião pura e sem mancha diante de Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as
viúvas em suas dificuldades e guardar-se da corrupção do mundo" (segunda
leitura).
A partir do alimento que, sendo ingerido, segue o destino comum, Jesus destaca
que o contraste pureza x impureza não está no exterior, corpo, ou nos
alimentos, mas no coração. Comumente o coração é apresentado como fonte de
pensamento e emoção. Aqui o coração é apresentado como fonte de ação, boa ou
má. Os fariseus, apegando-se às tradições humanas e interesseiras, afastam-se
da justiça de Deus em seus corações.
José
Raimundo Oliva
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