domingo, 8 de julho de 2012
Jesus de Nazaré, o Filho de Deus
O
evangelista Marcos narra que Jesus foi para “Sua própria terra”, isto é, para
Sua cidade de origem, a cidade de Sua família: Nazaré. Para Marcos, esta é a
última vez que Ele àquele lugar. É também a última vez que Ele entra numa
sinagoga, lugar onde os judeus se reuniam aos sábados para ouvir a Palavra de
Deus e rezar. No início, quem se admira são os ouvintes. Porém, a admiração não
os leva à fé em Jesus, mas sim a rejeitá-lo. No final desse Evangelho, é Jesus
quem se admira com a falta de fé daquele povo. Essa falta de fé no Homem-Jesus
impede a realização de milagres, isto é, o Reino acaba não acontecendo em
Nazaré.
Marcos
dá a entender que o povo estava cansado com esse costume. De fato, quando o
Senhor entra, pela primeira vez, numa sinagoga e começa a ensinar (cf.
1,21-28), o povo gosta desse novo ensinamento dado com autoridade (cf. 1,27).
Em
Nazaré, terra de Jesus, as coisas tomaram um rumo diferente. É que Ele não
havia frequentado nenhuma escola de ensino das Escrituras, não fez nenhuma
especialização. Além disso, Seu ensinamento é acompanhado de uma prática que
livra as pessoas de qualquer tipo de opressão. Marcos não consegue mostrá-Lo
ensinando sem que antes Ele desse a verdadeira liberdade ao homem. Mais ainda:
Seu ensinamento é uma prática de autêntica liberdade.
Em
Nazaré, num dia de sábado, Jesus está ensinando na sinagoga. Mais uma vez o
evangelista não diz o que Jesus ensina. Nós não precisamos de explicações, pois
conhecemos que tipo de ensinamento é o d’Ele.
O povo
que está na sinagoga manifesta sua perplexidade e descrédito em relação a
Jesus. A primeira e a segunda levantam suspeita e ceticismo: “De
onde ele recebeu tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria?” Por trás dessas objeções está o início
da rejeição de Jesus como Messias. Naquele tempo, especulavam muito sobre a
origem do Messias. E a conclusão a que chegaram era esta: “Nós
sabemos de onde vem esse Jesus, mas, quando chegar o Messias, ninguém saberá de
onde ele vem” (Jo
7,27). Jesus, portanto, não poderia ser o Messias, pois sua origem era
conhecida por todos. Além disso, para os conterrâneos de Cristo é impossível
“fazer teologia” sem passar pela escola dos doutores da Lei e fariseus.
A
terceira pergunta levanta suspeitas sobre quem age por meio de Jesus: “E
esses grandes milagres que são realizados por suas mãos?” Um pouco antes, alguns doutores
da Lei afirmavam que o chefe dos demônios agia em Jesus, levando-O a expulsar
demônios. O povo de Nazaré deixa transparecer essa mentalidade.
A
última pergunta sintetiza todas as anteriores: “Esse
homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas
e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” É uma pergunta desmoralizante e
debochada. Quando se queria desprezar alguém, bastava substituir o nome do pai
pelo da mãe. Por isso, a expressão “filho de Maria” (a não ser que José já
tivesse morrido) é altamente depreciativa. E a conclusão é muito simples: “Ficaram
escandalizados por causa dele”, isto
é, seus conterrâneos O rejeitaram.
Jesus,
portanto, foi rejeitado, porque se apresentou como um trabalhador que cresceu
em Nazaré ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não
descobriram n’Ele nada de extraordinário que pudesse indicá-Lo como o Messias
de Deus, mas a extraordinariedade de Jesus-Messias está justamente aí, na
Encarnação, no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum.
O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós, e aqui está o “nó da questão”.
Muitos afirmam que “não creem, porque não veem”. Os conterrâneos de Jesus não
creem, justamente porque veem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do
povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré,
lugarejo insignificante.
O
“escândalo” da Encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de
muito cristão de boa vontade. Por se encarnar nas realidades humanas,
Jesus-Messias foi rejeitado. Isso faz pensar no desafio que é a encarnação do
Evangelho na realidade do povo. Ficaremos paralisados como os conterrâneos de
Jesus?
Pai,
abra minha mente e meu coração para eu compreender que o Senhor se serve de
meios humanamente modestos para realizar as suas maravilhas.
Padre
Bantu Mendonça
Fonte: http://blog.cancaonova.com/homilia/2012/07/08/jesus-de-nazare-o-filho-de-deus/
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