domingo, 1 de abril de 2012

HOMILIA DO DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR


Jesus entra em Jerusalém, uma entrada real, mas não como fazem as autoridades humanas: Ele inaugura a Sua realeza o povo o aclama: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino que vai começar o reino de Davi, nosso pai! Hosana no mais alto dos céus!” (Mc 11, 9-10), mas de modo humilde. Isto porque não é escoltado por seguranças, nem entra na cidade santa de modo exibicionista: não tem carruagens nem batedores; o povo simples aclama Jesus com ramos de oliveira e palmas. Jesus se apresenta montado num jumentinho, coberto de mantos da população, e jumentinho emprestado. Jesus é o Rei manso e humilde, simples e pobre. É o reino que se manifesta semelhantemente à pobreza e humildade de Seu nascimento em Belém.

Em nosso Domingo de Ramos retomamos essa cena, com uma transformação: enquanto a população de Jerusalém acolhia Jesus como o Messias, o Filho de Davi, Aquele que fora prometido que de Davi viria o Salvador, muitos depois mudam e atiçados pelos sumos sacerdotes, rejeitam a Jesus levando-O à morte (Mc 15, 10-14).  E a nossa atitude transformada é acolher a Jesus como o Rei-Messias e permanecer com Ele, deixando que Seu reino se instale e fique em nós. A rejeição de Jesus e o pedido de soltura de Barrabás são semelhantes à rejeição de Jesus e à acolhida do mal, da injustiça e do pecado, nos dias de hoje.

A oração inicial da missa logo após a procissão de ramos, nos leva a rezar: “Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz, concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”. Daí, a Sua Paixão é salvadora em Si mesma pelo oferecimento que Jesus faz de Si ao Pai e a nós, um amor total, como também é educadora, exemplar: Vamos nos salvar com a humildade com a qual Jesus Se deixou ser morte na Cruz. Essa humildade do senhor é focalizada explicitamente na segunda leitura (Fl 2, 6-11): “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até a morte e morte de cruz.

A profecia de Isaías (50, 4-7), que é o primeiro canto do servo de Javé, retrata a futura paixão do Senhor também nesse enfoque da humildade: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”. O Salmo 21, que profetiza também a Paixão de Jesus, focaliza a humilhação que o Salvador iria sofrer (e sofreu): risos de deboches, desafios (para que se Ele fosse o Filho de Deus, e é, mas que Deus viria em seu socorro), cerco de cães e malvados, pés e mãos transpassados, vestes a sorteio (entre os soldados romanos). Assim, se mesclam a humildade e a humilhação do Senhor, em Sua Santa Paixão, que Ele assume para nos salvar.

Jesus sabia que iria triunfar com Sua ressurreição. E os textos do Antigo Testamento já anunciam essa Vitória: “Mas o Senhor Deus é o meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50, 7). Igualmente, o salmo: “Anunciarei o vosso nome a meus irmãos e no meio da assembleia hei de louvar-vos! Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores, glorificai-o, descendentes de Jacó, e respeitai-o, toda raça de Israel!” (Sl 21, 23-24). Mais à frente o referido salmo fala diretamente da ressurreição: “Todos os que dormem no seio da terra adorarão; diante d’Ele se prostarão os que retornam ao pó” (Sl 21, 30). No texto da 2ª leitura também está afirmada a glorificação de Jesus: “Por isto, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame:        ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11).

Jesus aceita a Sua realeza e a assume, embora discretamente, diante de Pilatos (Mc 15, 5). Mas este pensa que Jesus é um louco-inocente, não o condenando por isto, mas pela conspiração dos sumos sacerdotes (Mc 15,10). E o faz revestido de objetos reais, por ironia: a coroa de espinhos, o manto vermelho de púrpura, a cana como se fosse o cetro real (Mc 15, 17-20). A cruz nos redime pelo amor com o qual Jesus se deu ao Pai e a nós. E no momento de Sua morte a cortina do santuário (no templo) rasgou-se de alto a baixo, em duas partes (Mc 15, 38). Isto Deus fez acontecer para indicar que o culto antigo cedia lugar ao culto novo, como também era aberto o Santo dos santos (que a cortina isolava do povo, onde só entrava o sumo sacerdote uma vez por ano) a toda a humanidade: a salvação é para todos.

Como estamos nos preparando para acolher a Jesus morto e ressuscitado? Temos recebido Jesus como nosso rei de uma forma definitiva? A salvação que Jesus trouxe está sendo recebida pela fé e vivida no amor verdadeiro?

Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza
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