sexta-feira, 14 de outubro de 2011

HOMILIA DO 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Jesus, ao ser desafiado pelos fariseus, quando estes lhe disseram se era lícito ou não pagar o tributo a César, responde com uma frase de profunda sabedoria: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mt 22, 21). Com esta afirmação do Senhor, Ele quis além de superar a armadilha dos fariseus, apontar para a valorização da autoridade humana, que não é oposta a autoridade de Deus. Aliás, São Paulo nos diz que “Toda autoridade vem de Deus” (Rm 13, 1). E esta autoridade humana, deve governar visando o bem comum, porque age em lugar e em nome de Deus, o que garante a ela obediência ( ibidem).

Por isto, quando Deus fala, pela boca do profeta Isaías, que o rei Ciro (da Pérsia) era um instrumento de Deus para “submeter os povos ao seu domínio” “chamado pelo nome” (pessoalmente) e instrumento divino para proteger o Nome de Deus  – “ para que todos saibam, do Oriente ao Ocidente, que fora de mim (Deus) outro não existe” (1ª leitura, Isaías 45, 1. 4-6). No contexto mais amplo do profeta citado, podemos notar que Ciro destruiu o império babilônico, que havia escravizado a Israel, o Povo de Deus do Antigo Testamento, e foi um rei agraciado por Deus para a difusão da salvação. E, nesse sentido, Ciro é uma das figuras de Cristo no Antigo Testamento. Daí, a figura desse grande rei apontar para as demais autoridades humanas e serem também dóceis às determinações divinas. Jesus mesmo disse a Pilatos, no julgamento falho do Mestre, que esse governador não teria autoridade alguma se não lhe tivesse sido dada do Alto (Jo 19, 11).

Outros sim, a segunda leitura (1 Ts 1, 1-5) mostra para a comunidade cristã de Tessalônica, como um modelo de vivência: na fé, na esperança e na caridade. Fé que atua, ou seja, não basta crer, é preciso colocar o que se crê na ação cotidiana. O esforço, um empenho: a caridade não só um sentimento de amor, mas, sobretudo um empenho em se doar a Deus e ao próximo, por causa de Deus. Tudo isto na firmeza da esperança. Esta é o confiar, estar aguardando a plena realização do Plano de Deus. Crer, amar e confiar. Que ligação com a mensagem já vista hoje? Se a autoridade vem de Deus e os súditos devem obediência à mesma tudo isto deve ser realizado em clima de fé, esperança e caridade: Tanto da autoridade para com os súditos, quanto destes para com a autoridade, assim como dos súditos entre si.

Por outro lado, é preciso que “o nosso evangelho (chegue a todos) não somente em palavras, mas também por meio da força que é o Espírito Santo e isto com toda a abundância” (1 Ts 1, 5). É a dimensão missionária e evangelizadora da comunidade cristã que vive a fé, a esperança e a caridade. Nisto devem estar empenhados também os líderes cristãos, porquanto como Ciro: “armei-te guerreiro, sem me reconheceres, para que todos saibam, do oriente ao ocidente, que fora de mim outro não existe. Eu sou o Senhor, não há outro” (Is 45, 6). O viver antecipadamente o projeto de Deus leva-nos a propagar esse projeto, com a evangelização, com o nosso agir missionário.

Paulo rezava pela comunidade de Tessalônica (1 Ts 1, 2). Lembra-se sempre da mesma em suas orações. Isto nos faz entender que tudo em nosso ser e nosso agir cristão deve estar ancorado na vida de oração. Esta deverá ser a alma de tudo o que somos e fazemos. A autoridade, para bem governar, deve estar em oração, assim como os súditos, para estar em harmonia e obediência com os que detêm o poder devem também estar em oração. A oração bem entendida e vivida não exclui, mas inclui a consciência reta política, porque está na dimensão correta é “a arte de bem administrar o bem público”.

Mons. Jose Geraldo Pinto de Souza

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