sábado, 20 de junho de 2015

Confiar e não se deixar dominar pelo medo


Depois de uma série de ensinamentos em parábolas (4,1-34), Jesus faz com os seus discípulos uma nova travessia “para a outra margem”, trajeto que parece habitual para eles. Se não todos, a maioria dos seus discípulos conhecia muito bem o mar da Galileia, habituados a ter este lugar como lugar de trabalho. Situado a 210 metros abaixo do nível do mar, o fenômeno de ventos que agitam as águas do lago e provocam como que ondas, é conhecido. Para o homem bíblico, o mar é símbolo do mal e da morte. Diante dele, o ser humano sente uma força que não é capaz de dominar. A força dos ventos, a agitação das águas que invadem o barco e o desespero e o medo dos discípulos contrastam com a tranquilidade de Jesus, que dorme. Ao ser acordado pelos discípulos, põe-se em pé e com a palavra determinada, a mesma dirigida aos demônios (cf. Mc 1,25), domina a fúria do vento e do mar. No Antigo Testamento, é Deus quem acalma a fúria das ondas e conduz os seus ao porto seguro (cf. Sl 107[106],29). Na primeira leitura, um trecho do livro de Jó, Deus exorta Jó à confiança nele, pois os homens não têm poder sobre os elementos naturais, mas Deus, criador de todas as coisas, tem o poder sobre toda a criação. Jesus participa desse poder. De dentro do barco, repreendendo o vento e o mar, ele manifesta essa participação no poder de Deus para que cresça a fé dos discípulos. O texto é a ocasião para proclamar a divindade e a vitória de Cristo sobre o mal. Para o discípulo, o texto é um apelo à confiança, a não se deixar dominar pelo medo. No tempo da angústia e da aflição, a fé no Senhor permanece conosco, e deve nos dominar e conduzir (ver: Sl 107[106],25-30). No tempo da angústia, do medo, é preciso nos lembrarmos de que o Senhor está sempre presente (cf. Mt 28,20) e, como os discípulos, pedirmos com confiança e fé: “Senhor, ajuda-nos!”. Sem confiança no Senhor, sem fé, nos desesperamos, porque a falta de fé impede que o Senhor possa agir.
Pe. Carlos Alberto Contieri, sj

Fonte: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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sábado, 30 de maio de 2015

Pela fé entramos no mistério de Deus


A revelação da Santíssima Trindade nos permite tomar consciência de que Deus é uma comunhão de três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O termo “trindade” não aparece no Novo Testamento. O termo é fruto da abstração própria da teologia que busca compreender o conteúdo próprio da fé cristã. O que Deus é, ele nos deu a conhecer ao longo de toda a história vivida como o lugar da manifestação do seu plano de salvação. O conhecimento de Deus só é possível através da revelação, só é possível se Deus se mostra. Para a tradição bíblica, o que Deus é só pode ser dito narrativamente, isto é, na longa história de sua revelação ao seu povo até chegar à plenitude dos tempos em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, nascido de uma mulher (Gl 4,4). Em toda a história Deus se revelou como um Deus próximo, que caminha, orienta e conduz o seu povo. Na plenitude dos tempos Deus armou a sua tenda no meio de nós (Jo 1,14). Essa peregrinação de Deus na história da humanidade foi revelando pouco a pouco o seu rosto. Mas, na plenitude dos tempos, pela encarnação do Verbo eterno de Deus em Jesus de Nazaré, nós pudemos conhecer Deus sem sombra, sem véu (Mc 15,38), pois Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15); estando diante dele, estamos diante de Deus mesmo (Jo 14,9-10). O que Deus é desde toda a eternidade só pôde ser conhecido a partir da ressurreição de Jesus Cristo e com a graça do Espírito Santo. O que era desde toda a eternidade nós só chegamos a compreender depois: o último na ordem da compreensão é o primeiro na ordem do ser. Deus é amor (1Jo 4,8). A criação, a encarnação do Verbo de Deus, a redenção, tudo é fruto do amor de Deus pela humanidade. Um amor que não condena nem exclui quem quer que seja, mas que a todos, indistintamente, oferece a sua salvação. Cada um dos evangelhos, cada qual a seu modo, apresenta a dificuldade dos discípulos de entrar no mistério de Deus revelado em Jesus
Cristo. Essa dificuldade continua a ser nossa contemporânea. O que Deus é não se pode conhecer simplesmente por um esforço racional. A experiência própria da fé é que permite entrar nos umbrais do mistério de Deus. O Espírito Santo não realiza uma nova revelação, mas retoma as palavras de Jesus para que possamos compreendê-las, colocando-as no mais íntimo do coração humano para sermos testemunhas do amor de Deus entre todas as pessoas.
Pe. Carlos Alberto Contieri, sj

FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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