O relato da
“profissão de fé de Pedro” encontra-se nos três evangelhos sinóticos.
Certamente, o episódio retrata um momento de crise, pois, não obstante o
ensinamento e tudo o que Jesus faz, os seus contemporâneos não chegam a
ultrapassar o umbral do que aparece e, por isso, não são capazes de reconhecer
a manifestação salvífica de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. O evangelho,
considerado no seu todo, mostra que a dificuldade diz respeito não somente aos
opositores de Jesus e à multidão, mas também aos seus próprios discípulos. É
Jesus quem, em Cesareia de Felipe, lugar em que nasce o Rio Jordão, em cujas
águas o povo passou para entrar na “terra prometida”, faz a dupla pergunta aos
seus discípulos: quem dizem que eu sou? E vós quem dizeis que eu sou? Curiosamente,
naquele lugar, prestava-se, no passado, culto ao deus Pan. É exatamente nesse
lugar idólatra que os discípulos são desafiados por Jesus a professarem a fé
num único Messias. A resposta à primeira pergunta remete simplesmente ao
passado. As pessoas não vêm em Jesus a realização da promessa de Deus, nem o
Messias prometido. A resposta de Pedro, expressão da fé de toda a Igreja, faz
com que o leitor compreenda que o Messias deixou de ser objeto de uma promessa
e esperança para adquirir um rosto concreto em Jesus de Nazaré. A rocha
indestrutível sobre a qual a Igreja está construída é a fé de Pedro; é ela que
sustenta a comunidade dos discípulos no seguimento de Jesus Cristo, o Senhor.
Mas a profissão de fé de Simão Pedro não é fruto do esforço da razão. Ela é dom
da revelação gratuita de Deus, prometida aos “pequeninos” (Mt 11,25). A
primazia de Simão Pedro em relação aos demais discípulos vem do fato de ele
professar com exatidão a fé cristã. O silêncio imposto por Jesus aos discípulos
diz respeito à sua identidade como Messias. Esse silêncio tem um duplo
significado: Jesus não pretende ser confundido com nenhuma das correntes
messiânicas de sua época e, ao mesmo tempo, o silêncio oferece ao leitor do
evangelho a oportunidade de ele mesmo responder a pergunta cristológica
fundamental: Quem é Jesus?
O trecho da carta aos Romanos ilustra o que
dissemos acima. O texto é uma doxologia em que se exalta a sabedoria insondável
de Deus. Por mais que o homem queira, a sua capacidade humana estará sempre
aquém de poder compreender o mistério de Deus.
Carlos Alberto Contieri, sj
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