A primeira leitura,
assim como o evangelho, fala de uma travessia. No caso de Elias, é uma
travessia pelo deserto. Os discípulos de Jesus fazem a travessia para a outra
margem do Mar da Galileia, depois do episódio dos pães. Jesus, a sós, vai à
montanha para rezar. Uma e outra travessia são símbolos da vida cotidiana em
que se dá o encontro com Deus. É o tempo em que Deus se aproxima do homem, como
se aproximou de Elias e dos discípulos, para revelar quem Ele é e quem é o
homem.
Elias atravessa o deserto fugindo da perseguição
de Jezabel, mulher do rei Acab, que pretendia matá-lo, pois Elias havia
degolado quatrocentos profetas de Baal que estavam a serviço da rainha. No meio
da travessia do deserto, Elias pede a Deus a morte; deita-se, à sombra de um
junípero, entregue às próprias forças. Misteriosamente, aparece, ali, a comida
que ele precisa para continuar o seu caminho até o Monte de Deus. Lá chegando,
refugiou-se numa gruta. Avisado que Deus iria passar, se pôs à entrada da gruta
e experimentou a presença de Deus não como um vento impetuoso nem como um
terremoto, mas como uma brisa suave. Isso foi para Elias uma lição: O Deus de
Israel não é um Deus que promove a vingança, nem tampouco o ódio. O Deus que se
revela sobre o Monte é um Deus misericordioso, compassivo, bondoso, suave como
a brisa da tarde.
A travessia dos discípulos para a outra margem
acontece depois do episódio dos pães. O lago de Genesaré é, para o nosso texto
de hoje, símbolo da vida cotidiana. Na travessia, o barco é agitado pelas
ondas, pois o vento era contrário. O mar é, ainda, para a mentalidade do homem
bíblico, símbolo do mal e da morte. O mal agita e ameaça a vida humana e a
Igreja. Ao longe, o Senhor vê o sofrimento dos discípulos (cf. Ex 3,7ss) e sai
em socorro dos seus caminhando sobre as águas. Gesto simbólico que manifesta a
divindade de Jesus. No Antigo Testamento é Deus quem domina a fúria do vento e
do mar (cf. Sl 89,10). O medo, a escuridão da noite fazem os discípulos
confundirem Jesus com um fantasma. Mesmo diante da palavra de Jesus, “sou eu”,
Pedro o desafia. À palavra de Jesus ele sai do barco e caminha sobre a água,
mas duvida e começa a afundar. O Senhor, no entanto, o resgata. O que faz Pedro
afundar é o medo, a dúvida, a falta de confiança no Senhor. Mergulhado na sua
fraqueza, em razão da sua incredulidade, Pedro irá experimentar a força do
braço do Senhor que o arrancou do poder do mal e da morte.
Carlos Alberto Contieri, sj
FONTE: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=evangelho
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