domingo, 1 de dezembro de 2013

Atitude de vigilância



O primeiro domingo do Advento é o início do ano litúrgico. Para os cristãos, é o verdadeiro “ano novo”, pois a nossa vida de fé é marcada e ritmada pela celebração do Mistério de Deus. O Advento é tempo de preparação para o Natal; tempo que deve ser vivido numa dupla atitude: intensificar a leitura e a meditação da Palavra de Deus e a penitência.

O texto da liturgia de hoje é parte do discurso escatológico de Jesus (Mt 24,1–25,46); discurso sobre o fim. Entenda-se fim não como término, mas como aquilo que é definitivo para a existência humana. Normalmente, a linguagem utilizada para este tipo de discurso é a apocalíptica, que tem um tom um tanto dramático e, por vezes, causa certo medo nas pessoas que não ultrapassam o sentido primeiro do texto. Em nosso caso, o discurso é exortação aos discípulos a colocarem a sua confiança naquilo que não passa. O precursor deste tipo de linguagem na Bíblia é o livro de Daniel (Dn 7–12), escrito em meados do segundo século antes de Cristo.

A evocação do tempo de Noé e o dilúvio servem para colocar os discípulos, destinatários do discurso (cf. Mt 24,1), de alerta e para os convidar a uma atitude de engajamento e coerência com sua vocação cristã. O dilúvio, como evento de purificação, é água divisora entre um antes e um depois. Parece que o dilúvio os faz abrir os olhos quanto ao modo como viviam: nada percebiam, “até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (v. 39). A vida do ser humano não se encerra nos limites da história, nem se resume em comer e beber, nem em procurar “aproveitar a vida”. Na descrição sumária do tempo de Noé, Deus não aparece; é como se ele não contasse para nada. A excessiva preocupação com questões relativas à vida de cada dia e com o bem-estar pode não só nos distanciar das coisas do céu, como também nos fazer prescindir do próprio Deus ou até ignorar sua presença. A história do tempo de Noé, antes do dilúvio, serve para ilustrar esta situação e interpelar os discípulos a que mantenham a vida referida a Deus. A fé em Deus exige uma vida conforme a sua vontade: “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor!, entrará no Reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). A vida de quem crê deve ser a expressão da fé que ele professa e do Deus em quem ele põe a sua esperança e confiança. O principal é buscar o Reino de Deus, que antecede todas as coisas, e por Deus o necessário é dado (ver: Lc 12,22-31).

A imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem exige uma atitude diferente das pessoas do tempo de Noé, anteriores ao dilúvio (cf. v. 39b-41). A atitude requerida é a da vigilância (cf. v. 42). Vigilância é trabalho de discernimento, é empenho na atividade cotidiana que engaja o homem na sua missão, fruto do seguimento de Jesus Cristo. “É hora de despertarmos do sono”, diz Paulo, “abandonemos as obras das trevas, e vistamos as armas da luz; procedamos honestamente como em pleno dia […]. Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,11-14).


Carlos Alberto Contieri, sj

Nenhum comentário:

Postar um comentário