O texto do evangelho deste domingo, conhecido como “profissão de
fé de Pedro”, seguido do anúncio da paixão, morte e ressurreição, é a sequência
do relato da confusão de Herodes que, ouvindo falar de Jesus, não pode conhecer
sua verdadeira identidade (vv. 7-9); e do relato da multiplicação dos pães em
que Jesus alimenta abundantemente uma multidão de uns cinco mil homens (vv.
10-17). A dupla pergunta posta aos discípulos revela a preocupação de Jesus de
que sua missão e a sua verdadeira identidade não estejam sendo compreendidas. O
autor do quarto evangelho apresenta esta preocupação de modo claro: “Vós me
procurais não porque vistes sinais, mas porque comestes e ficastes saciados”
(Jo 6,26).
Na primeira parte do texto há uma dupla pergunta:
“Quem dizem as multidões que eu sou?” (v. 18), e “quem dizeis que eu sou?” (v.
20). À resposta acerca da opinião da multidão, Jesus não faz nenhum comentário.
A resposta acerca da opinião da multidão confirma a suspeita de incompreensão.
Mesmo que a pessoa de Jesus suscite perguntas e provoque a opinião das pessoas,
a multidão continua voltada para o passado de Israel, incapaz de perceber e
reconhecer a irrupção da visita salvífica de Deus (Lc 1,68; 7,16). É a vez de
os discípulos se engajarem na resposta à pergunta: “E vós, quem dizeis que eu
sou?” A resposta é mais importante para os discípulos do que para Jesus. Dela
dependerá a adesão ou não ao Senhor. Pedro, como porta-voz de todos os demais,
toma a iniciativa: “O Cristo de Deus” (v. 20). Isto significa: o Messias prometido
e esperado, aquele que é habitado pelo Espírito Santo (cf. Lc 3,22; 4,1.18).
Jesus impede os discípulos de divulgarem o que Pedro acaba de proclamar.
Isto porque será preciso
esclarecer de que Messias se trata; talvez o Messias que Jesus é não seja exatamente
o que os próprios discípulos pensavam ter encontrado (ver: Mc 8,32-33). Mas
também é verdade que cada um deve dar a sua resposta. É neste ponto que Jesus
anuncia, pela primeira vez no evangelho segundo Lucas, sua paixão, morte e
ressurreição (v. 22). Este anúncio tem consequências para os Doze como para
todos os discípulos. Em primeiro lugar, eles devem se distanciar da opinião da
multidão e se engajarem, na fé, na verdadeira missão de serviço, e não de
poder.
Em segundo lugar, o
caminho de Jesus passa a ser o caminho necessário de todos os que aderem, pela
fé, e livremente, à sua pessoa: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo…” (v. 23). A cruz passa a fazer parte da vida do discípulo. É a forma de
superar todo egoísmo que fecha a pessoa sobre si mesma. Paradoxalmente, a vida
é ganha na entrega sem reservas: “... quem quiser salvar sua vida a perderá, e
quem perder sua vida por causa de mim a salvará” (v. 24).
Carlos Alberto Contieri, sj
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