sábado, 17 de março de 2012

HOMILIA IV DOMINGO DA QUARESMA


A antífona da entrada “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66, 10s) é um convite para que o cristão se alegre, portanto a conversão nossa a Deus e ao próximo tem uma forte dimensão alegre. A oração inicial da missa nos faz pedir a Deus “concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam, cheio de fervor e exultando de fé”. A restauração do povo de Israel, por Ciro, após o exílio da Babilônia, foi um fato de muita alegria e é uma imagem profética de restauração de toda humanidade por Nosso Senhor Jesus Cristo.

A segunda leitura aponta para a misericórdia de Deus, que nos amou com um grande amor: “quando estávamos mortos por causa das grandes faltas, Ele nos deu a vida em Cristo” (Ef 2, 6). Cristo como cabeça da Igreja já nos salvou, mas é preciso de nossa parte acolher, receber, assumir, frutificar esta salvação. O texto volta a dizer “com efeito, é pela graça que sois salvos, mediante a fé” (Ef 2, 8). A fé é, além de crer, este assumir a salvação. “A fé é um dom de Deus” (Ef 2, 8), mas é também um ato continuo de nossa parte, dando o nosso sim à graça restauradora de Jesus.

As boas obras, com a força da graça recebida na fé, são necessárias: “nós fomos criados em Jesus Cristo para as boas obras, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos” (Ef 2, 10). Uma dessas obras é “pôr-se a caminho” para a Nova Jerusalém (o Céu), como Ciro, na primeira leitura conclamou ao povo de Israel que se pusesse a caminho para a reconstrução de Jerusalém, que estava destruída pelos babilônios. Hoje, a Nova Jerusalém foi reconstruída por Jesus quando morreu e ressuscitou, reconstrução da qual participamos. E é um trabalho “já feito” e “não ainda”, no sentido de que essa reconstrução, por nossa parte, está em processo.

Esta fé em Jesus parte da Sua Cruz Redentora: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o filho do Homem (Jesus) seja levantado (na Cruz), para que todos os que n’Ele crerem não morram mas tenham a vida eterna” (Jo 3, 14-15). Esta morte redentora de Jesus provém do amor do Pai para conosco (Jo 3, 16). Deus quer salvar, justamente por Seu amor, o mundo, todos e cada um (Jo 3,17). Mas se não crermos em Jesus, se não nos abrirmos à salvação que Ele nos trouxe, podemos nos condenar (Jo 3, 18). E a fé tem que se expressar em obras (Jo 3, 20), porque quem não se aproxima da luz de Jesus é porque preferiu estar nas obras das trevas (ibidem). Mas se agirmos conforme a verdade (sob a luz da fé em Jesus) nossas obras são realizadas em Deus (Jo 3,21).

Crer no Cristo crucificado e ressuscitado. Não podemos chegar ao Cristo ressuscitado (Vitorioso) se não passarmos pela cruz, pelo Cristo crucificado. Porquanto Ele mesmo disse: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). São Paulo entendeu muito bem essa realidade quando disse: “Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou: é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 19b-20c). E o Evangelho de hoje destaca: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto (a serpente de bronze), assim é necessário que o Filho do Homem (Jesus) seja levantado (na Cruz), para que todos os que n’Ele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3, 14-15). Ou seja: ao olharem para a serpente de bronze (Nm 21, 4-9), os israelitas ficavam curados das mordeduras das serpentes no deserto (Deus curava-os mediante o arrependimento porque haviam murmurado contra Deus) ao olharem para esse imagem, que era instrumento de Deus. Agora ao olharmos para o Cristo crucificado (com fé e arrependidos) ficamos curados das mordeduras da serpente maligna, curados do demônio.

Portanto, pela misericórdia de Deus, que enviou Seu Filho para nos salvar, olhando para Ele, com fé e arrependidos, obtemos a salvação, expressa nas obras da luz. E esta restauração é fonte de alegria. Nossa penitência quaresmal tem, então, esta dimensão alegre. Alegria que devemos levar para os nossos irmãos sofredores, principalmente aos enfermos, para que eles encontrem em Jesus, através da Palavra, da Eucaristia e de nossa ação cristã de amor e fé, a alegria que vem do Senhor e conduz a Ele em clima de comunidade que caminha para o céu.

 Monsenhor José Geraldo da Silva Pinto Souza
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